NOSSA MÃE, NOSSAS CRUZES

16 Set 2021
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“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (LC, 1,38)

Do nascimento à Assunção, da Anunciação à Cruz, do ventre ao sepulcro, do túmulo vazio à Ressurreição, de Pentecostes ao Reino Eterno, é Única e uma só, a Virgem Maria, Mãe de Deus, que, venerada e conhecida por muitos títulos, será sempre a Mãe de Jesus e nossa. O centro da Sagrada Escritura, cujo mês celebramos, é Cristo Jesus, o Filho Unigênito do Pai, Senhor da Criação e Redentor de toda humanidade, nascido da Virgem Maria, por obra do Espírito Santo. Essa é a fé que professamos. Ele, o Cristo de Deus, é o Alfa e o Ômega, princípio e fim de todas as coisas, desde sempre e para sempre, o único e verdadeiro caminho de salvação para todo o povo de Deus. A Bíblia, fonte da revelação de Deus, nos ensina que: “Muitas vezes e de diversos modos outrora Deus falou aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” (Hb1,1-2). Esse falar de forma progressiva à humanidade também pode ser percebido em relação à Virgem Maria, Senhora das Dores, que também aos pés da Cruz, cumpre sua missão no plano da Salvação. Não é por acaso que a Igreja comemora a Exaltação da Santa Cruz no dia quatorze de setembro e no dia quinze, o dia dedicado à Nossa Senhora das Dores. Unida a Cristo aos pés da Cruz, a Virgem Maria viu cumprir-se a profecia de Simeão: “e uma espada traspassará a tua alma” (Lc 2,25-35). Seu corpo santo e puríssimo foi preservado do sofrimento, porém, sua alma foi ferida veementemente pelas dores sofridas pelo Fruto de seu ventre. As Dores vividas pela Virgem Maria devem nos comover, a ponto de imitarmos sua confiança, obediência e seguimento dos planos de Deus em nossa vida. Ao viver o êxtase de conceber Jesus, a Virgem da Alegria vai se tornando, aos poucos a Virgem das Dores, pelas espadas dolorosas que vão afligindo seu coração. O exílio no Egito a afasta de seu povo; a perda do Menino no Templo deixa seu coração repleto de aflição; vê-Lo carregando a pesada Cruz aos ombros, na subida para o Calvário, arranca-lhe lágrimas dolorosas que só uma Mãe pode sentir; contemplar o Fruto de seu ventre pregado na Cruz, a torna intercessora pois, certamente, junto com o Filho, Ela pede o perdão pelos pecadores que O crucificaram, pois, Ela sabe que ‘eles não sabem o que fazem’; naquele momento de dor inimaginável Ela diz outro sim ao receber do Filho a missão de ser a mãe de toda humanidade! Que alegria a nossa, temos uma Mãe que em detrimento de seu próprio sofrimento, nos acolhe como filhos, oferece seu colo protetor e olha por nossas dores e alegrias. Ao receber em seus braços o Corpo sem vida do Filho amado, que fora traspassado pela lança do soldado, em silêncio, Ela sente que se cumpriu definitivamente a profecia de Simeão. Ali, naquele momento a Virgem Maria sente sua alma ferida e traspassada pela espada de dor, que lhe dilacera o coração.  Depois do sepultamento de seu amado Filho, a Virgem das Dores mergulha de alma e coração nos mistérios de Deus e se mantém forte e confiante. Nascida para dar à Luz ao Messias, a Virgem Maria jamais ocupou o lugar de Cristo, antes, manteve-se ao lado, silenciosamente caminhando com Ele, obediente e prestativa, confiante e amorosa, sofrendo com Ele as dores do mundo. Não recordemos as dores da Virgem Mãe, que foram imensas, apenas pelos sofrimentos que causaram em seu puro coração, mas as recordemos pelo oferecimento que Ela fez de si mesma para a redenção da humanidade. Ao contemplar o Mistério da Redenção, a Mãe das Dores relembra o ‘Sim’ da Anunciação e, aos pés da Cruz, novamente diz ‘Sim’. Um ‘Sim” que gera a Igreja de Jesus Cristo. Em suas dores e aflições, a Virgem Maria nos aponta, ainda hoje, o caminho para a plenitude da salvação. Ela, com seu ‘fiat’, nos ensina que ninguém está imune ao sofrimento e ao peso da própria cruz. A Virgem das Dores é a medianeira das graças, posto que, como Mãe amorosa que é, Ela nos oferece seu colo, intercedendo por nós, quando a nossa cruz se torna pesada demais e as espadas do sofrimento afligem nosso coração e, quando sentimos fraquejar nosso corpo, Ela nos diz que é em pé, diante da nossa cruz, que alcançaremos a vitória. Com Ela, temos a certeza de que Deus age em meio as tantas espadas que nos ferem cotidianamente, pois de toda dor e sofrimento vividos, há sempre uma lição, um aprendizado que nos conduz à conversão e nos faz retornar ao único caminho que conduz ao Redentor.  O saudoso Papa João Paulo II tão bem definiu o momento da Virgem das Dores aos pés da Cruz, dizendo: “Na anunciação, Maria dá no seu seio a natureza humana ao filho de Deus; aos pés da Cruz, em João, recebe no seu coração toda a humanidade. Mãe de Deus desde o primeiro instante da encarnação, ela torna-se mãe dos homens nos últimos momentos da vida do Filho, Jesus”. Entreguemo-nos aos cuidados da Virgem das Dores, a Ela nos consagremos a todo instante, unamos nossas dores às Dela, para que brote em nossos corações o vinho novo no lugar da água da indiferença e do pecado que nos impede de vivermos a fé a esperança. Que a Senhora das Dores interceda por todas as dores do povo de Deus.

Dom Carlos José de Oliveira
Bispo da Diocese de Apucarana


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