DOM CARLOS JOSÉ – BISPO DE APUCARANA

10 Abr 2022
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Depois de nos termos preparado durante a quaresma, eis nos com ramos nas mãos, ouvintes silenciosos da Entrada de Jesus em Jerusalém e depois ouvintes silenciosos e com corações dolorosos de sua paixão narrada por Lucas. No episódio da entrada de Jesus em Jerusalém, naquele dia festivo em que o mestre mesmo afirma aos fariseus que não se devia calar a voz alegre e entusiasmada da multidão em Jerusalém, podemos nos perguntar: aonde estava Maria, a Mãe de Jesus? Estaria a Virgem Santíssima entre a multidão que aclamava o Mestre? Estaria em casa da mãe de João Marcos, apreensiva e alegre ao mesmo tempo? São Lucas nos disse que a multidão louvava a Deus por todos os milagres que tinha visto. Todos eram testemunhas dos milagres, sinais realizados por Jesus. Podemos imaginar a Virgem Santa também louvando a Deus e se alegrando naquele dia de festa em Sião. De fato, segundo São João, foi Maria que pediu a Jesus que realizasse o primeiro sinal, milagre em Caná da Galileia. Os dois discípulos enviados por Jesus a buscarem o jumentinho, estavam obedecendo, exatamente como Maria havia pedido no início do ministério de Jesus: “Façam tudo o que Jesus vos disser”. Caros irmãos me animo em pensar que naquele dia, o primeiro domingo de Ramos da história, a Virgem Maria estava ao lado de Jesus e dos apóstolos, com ramos nas mãos louvando ao Deus de Israel. No coração de Maria com certeza podemos encontrar sempre as palavras do Magnificat: Minha alma engrandece o Senhor. A Virgem Santa que caminhou na penumbra da fé, como nos ensinou São João Paulo II, figurava naquela multidão entusiasmada no caminho de Betânia, da casa de Lazaro, Marta e Maria, até o Templo de Jerusalém. Sim, Maria Santíssima participou daquele momento de alegria e entusiasmo de seu povo. Glorificou a Deus, cantou os hosanas a seu Divino Filho, Rei de Israel e Rei de todo mundo. Mas ao lado da alegria de Maria, em seu puríssimo, Imaculado Coração, sempre unido ao Coração Divino de seu Filho, havia a sombra da cruz, da dor, do sofrimento. Antes ainda de chegar a Jerusalém, Jesus contemplando a cidade chorou sobre ela. Jesus chorou sobre Jerusalém. Maria, ao lado de Jesus, também chorou sobre a sorte de seu povo, sempre desobediente a vontade de Deus. Maria Santíssima chorou sobre Jerusalém, como chorou em tantas de suas aparições ao longo dos séculos, porque os homens de ontem e de hoje não obedecem a Deus. Jesus e Maria choraram sobre Jerusalém, como hoje choram sobre a Ucrânia, o Iêmen e tantos países destruídos pela guerra, pela violência louca e diabólica. São Lucas nos diz que depois de entrar na cidade, Jesus chegou ao Templo. Ah, então sim o Coração Imaculado de Maria ficou mais apertado ainda quando Jesus entrou no templo e o purificou, porque fizeram da Casa de oração um covil de ladrões. Sim, Maria Santíssima se alegrou e muito sofreu naquele primeiro domingo de Ramos. Afinal de contas em seu coração ELA sabia que aquele montado no jumentinho era seu Filho, mas era o Filho de Deus. Sabia que Deus era seu Pai e por isso se alegrava com o reconhecimento dos simples de Israel. Mas Maria, por graça divina, mas também porque foi educada nas Sagradas Escrituras, sabia que o Servo Sofredor profetizado por Isaias era Jesus seu Filho. Maria não se deixava animar pelas expectativas políticas, politiqueiras de alguns discípulos de Jesus. Sabia que o Filho de Deus, seu filho, deveria passar pela morte dolorosa. O Filho de Deus viera, encarnado em seu ventre puríssimo, para ser o Messias Sofredor, conforme ouvimos na primeira leitura do profeta Isaias. Sabia Maria que seu menino, tão amado, chegaria a gritar e rezar com o salmo 21: meu Deus, meu Deus por que me abandonastes? Maria era uma verdadeira israelita, forjada na dureza da vida do deserto, iluminada pela palavra de Deus, que não esconde de ninguém o Mistério da Cruz na própria vida humana. Sim, o coração de Maria, já se tornou Coração Doloroso da Mãe de Deus, que se recordava da profecia de Simeão: Uma espada de dor transpassara tua alma. Maria, era Mulher forte e de fé para acompanhar seu Filho com ramos da vitória nas mãos, mas sabedora que a vitória certa, certíssima, ainda teria que atravessar a escuridão da paixão. Sabia que o nome de seu Filho, do Filho de Deus seria exaltado acima de todo nome, como ouvimos na segunda leitura de São Paulo aos Filipenses. Sabia que o nome de seu Filho seria glorificado sobre toda a terra. Sabia que Jesus é o Senhor para a gloria de Deus Pai. Mas sofria porque sabia que os gritos de hosana se tornariam gritos de: Crucifica-o.... Eis irmãos e irmãs a nossa Mãe, a Mater Dolorosa.. Hoje ela nos pede e ensina a termos firmes nas mãos os ramos verdes, a passarmos esta semana com os ramos verdes em nossas mãos, em nosso coração, sinal da vitória final de Cristo, mas nos pede que tenhamos a coragem de acompanhar Jesus no seu calvário. Maria nos ensina a sermos fortes, perseverantes. Enfrentamos a pandemia, vivemos na incerteza de uma guerra que já é mundial, e aos pedaços, como nos lembra o papa Francisco. Mas não podemos desanimar. Em certos momentos seremos como Pedro, negando a Jesus, aos irmãos e a Deus. Em outros momentos seremos fortes como as mulheres que ficaram com o Cristo aos pés da bendita cruz. Mas o que importa é que sejamos discípulos de Jesus, dia e noite, na vigilância, ou dormindo, mas sempre com Jesus. Entremos no Mistério da Semana Santa. Melhor ainda peçamos a Nossa Senhora que nos introduza nesta semana para que ela seja verdadeiramente santa. Que nada e ninguém nos separe do amor de Cristo e de Maria. Amém


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