27ª Romaria da Terra do Paraná

28 Mai 2013
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1.  
O município de Faxinal

O município de Faxinal, esta localizado na mesorregião Norte Central, distante 330 quilômetros de Curitiba e 100 km e 130 km respectivamente de Londrina e Maringá.  Os recursos naturais são uma das questões que fazem o município ter destaque.  Segundo dados do Censo realizado em 2010 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população do município é de 16.314 pessoas, sendo que 78,08% residem no espaço urbano e 21,92% no campo.

 

Caracterizar melhor o município de Faxinal e os motivos que levaram a Romaria acontecer em Faxinal na Diocese de Apucarana.

 

2.      A temática da Juventude na atualidade

O debate em torno da questão da juventude está colocado nos nossos dias. Visualizamos o seu crescimento nas esferas acadêmicas, políticas, eclesiais dentre outras. Do ponto de vista eclesial a Igreja Católica elegeu a juventude como tema da campanha da fraternidade no ano de 2013. [1] No que se refere ao campo governamental entre os anos de 2003 e 2012, a temática dos direitos da juventude também ganhou relevância. Em 2005 foi criado o Conselho Nacional da Juventude e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).

 

3.      O conceito de juventude e a diversidade juvenil

O termo jovem é utilizado pelo senso comum, no campo acadêmico. No século XIX predominava uma visão geracional que opunha jovens e velhos. São muitas as propostas, tematizações e imaginários (re) criados cotidianamente sobre os jovens. Mas afinal o que é a juventude? Alguns afirmam que é uma etapa da vida, outros que é um jeito de ser, para muitos uma fase de transição marcada pela rebeldia, crise e questionamentos dos padrões sociais estabelecidos.

Como demonstra Castro (2012), na atualidade em nossa sociedade a juventude é identificada como um período da vida marcado pela transição para a vida adulta. Além da transitoriedade, em torno dos jovens são depositados os projetos da sociedade para o futuro e a transformação social.

É importante destacar que esta noção de juventude apresenta limites e não expressa toda a realidade juvenil no Brasil e no Paraná. Entre os jovens da classe trabalhadora e mesmo no meio rural o trabalho é uma dimensão importante e necessária na vida dos jovens. Quanto à escolarização, os indicadores demonstram que uma parcela significativa dos jovens trabalhadores nas cidades e dos jovens camponeses (as) não tem o direito a educação/escolarização garantido pelo Estado.

Além disso, é importante destacar que a juventude ou o ser jovem não se resume apenas a uma classificação etária ou às transformações biológicas que afetam o corpo dos indivíduos. A juventude é uma categoria social, que não pode ser definida apenas como uma faixa etária ou “classe de idade” específica, ou ainda como uma classe social. Esta compreensão de juventude como categoria social tem dois eixos norteadores: o primeiro é que a noção de juventude é uma representação sociocultural, ou seja, cada sociedade, em cada tempo histórico e nas diversas realidades socioeconômica, culturais e geográficas constrói ideias sobre o que é ser jovem.  A segunda dimensão se configura que a juventude é uma situação social vivenciada pelos jovens. (Groppo, 2000).

 Portanto, a concepção de juventude tem uma dimensão social e cultural. Assim, é possível afirmar que a diversidade é um elemento caracterizador dos jovens. São diversas experiências juvenis construídas na atualidade. È diferente ser jovem na cidade e no campo, nos pequenos municípios e nas grandes cidades, ser homem e mulher, pobre ou rico.

4.      Os (as) jovens no campo no Brasil e no Paraná
Dados do último censo apontam que o Brasil possui uma população de aproximadamente 190 milhões de pessoas, sendo que aproximadamente 27% são de jovens (51.400.000). Dos jovens, 84,79% estão no espaço urbano e 15,41% no campo (um total de 7.850.000).  De acordo com IBGE, no Paraná os jovens representam 25,95% da população (2.709.109 de jovens).  Destes 361.768 está no campo, o que representa 15,41% da população juvenil do Estado. No município da Faxinal os jovens representam 25,11% da população (4.098), sendo que 23,42% estão no meio rural.

O êxodo rural continua a ser uma questão a ser pensada. Segundo reportagem do jornal Gazeta do Povo, publicada em 2011, no período de 2000 a 2010, aproximadamente 835 mil jovens deixaram o campo no país. Em números absolutos, o Paraná foi o segundo estado que mais perdeu população no campo com idades entre 15 e 24 anos, na comparação entre os censos de 2000 e 2010. Foram 73,9 mil baixas, um total só menor do que o verificado em São Paulo, que teve redução de 184,6 mil jovens. Proporcionalmente à sua população, o estado teve a 5.ª maior queda – 22,4% dos jovens que moravam no campo se mudaram para as cidade

O cenário apresentado é preocupante, contudo, a realidade e os desafios da juventude do campo não se restringem ao “problema da migração do campo para a cidade”.  A permanência ou saída dos jovens no meio rural esta relacionada a diversos fatores. O acesso a Terra, a garantia do direito à Educação, a efetivação de espaços de cultura e lazer e o acesso as novas tecnologias são algumas das questões que o compõem os desafios vivenciados pela juventude camponesa na atualidade. (Castro, 2012).

5.      A juventude do campo: a invisibilidade social

 Apesar do reconhecimento da diversidade dos grupos e vivências juvenis a maioria dos estudos acadêmicos e das propostas de políticas públicas (quando existem) se restringe aos jovens do espaço urbano.  Weisheimer (2005) e Castro (2004) demonstram que nas universidades as produções acadêmicas privilegiam “juventude urbana”, sendo reduzidas as produções e as iniciativas no campo das políticas públicas que têm como foco a juventude camponesa.

Esta invisibilidade também se percebe no contexto das igrejas. O texto da campanha da fraternidade não faz referência aos jovens camponeses e sua realidade. Na própria linguagem utilizada visualiza-se esta questão. Ao descrever o perfil populacional da juventude brasileira o texto afirma que “os jovens estão maciçamente presentes no meio urbano, representam 84,35% do total, restando apenas 15,2% no campo”.

No texto acentua-se ainda a realidade dos jovens nos espaços urbanos, aponta-se para as tribos juvenis como uma nova forma associativa, para os grupos ecológicos, de afirmação de identidade (negros, indígenas dentre outros) e artísticos, No entanto, não dá visibilidade à realidade, aos desafios, as desigualdades e as várias formas associativas organizadas pelos jovens no espaço rural. 

 

6.      Juventude do Campo: Trabalho, Cultura e Lazer.

Segundo dados da pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira”, três assuntos mais interessam os jovens rurais são eles: emprego, cultura e lazer. O trabalho é uma realidade para a maioria dos jovens. Os dados revelam que os jovens do campo e da cidade estão inseridos no mundo do trabalho, 70% dos consultados integram a PEA (população economicamente ativa - dentro destes números 36% está trabalhando, 32% estão desempregados, 8% nunca trabalharam, mas estão procurando emprego). O número de jovens trabalhando é maior no campo (41% no campo e 35% na cidade), o número de desempregados é maior na cidade (34% na cidade e 25% no campo).

Do total de jovens camponeses que trabalham ou já trabalharam (66%), mais da metade (37%) tem vinculo com o mercado de trabalho na cidade, este fator indica uma ausência de alternativas de trabalho no meio rural. Essa inclusão em ocupações na cidade não resulta na ampliação dos direitos e das possibilidades colocadas aos jovens do campo. Geralmente sua inserção no mundo do trabalho ocorre em profissões que requerem pouca qualificação profissional. Essa situação de precariedade se revela nos dados sobre as condições de trabalho: menos de 1/3 dos jovens residentes no campo e que trabalham na cidade têm carteira assinada. Segundo números da amostra 42% ganham menos de ½ salário mínimo, 27 % recebem de ½ a 1 salário.

7.      Os modelos de desenvolvimento do campo e a juventude

Como já demonstrado o trabalho (ou a ausência dele) é central para a juventude camponesa. Este debate não esta dissociado das propostas de desenvolvimento para o campo, materializadas nas perspectivas do agronegócio e da agricultura camponesa.

No século XX a atividade agrícola passou por um conjunto de transformações que alteraram significativamente a organização do meio rural no mundo e no Brasil. É neste cenário que ocorreu o processo de modernização da agricultura denominado Revolução Verde e o surgimento do denominado agronegócio. O conceito de agronegócio pode ser associado ao modelo de desenvolvimento do campo organizado pelas grandes empresas capitalistas que atuam na agricultura. Nesta visão o meio rural é entendido por uma compreensão exclusivamente econômica/produtiva. As palavras dos bispos e pastores no documento “Os pobres possuirão a terra” mostra de forma simples o que é no agronegócio “a produção agropecuária tem endereço certo: o mercado mundial. Produz para quem paga”.

Na atualidade um conjunto de sujeitos e movimentos sociais propõe outro modelo para campo brasileiro, projeto este traduzido na agricultura camponesa.    O projeto camponês tem no trabalho familiar na terra a sua base.  O trabalho associativo, a organização cooperativa, a prática do mutirão, o trabalho coletivo, comunitário ou individual são algumas das características da agricultura camponesa Na perspectiva da agricultura camponesa o campo é mais que um espaço de produção econômica/agrícola, se configura também como um espaço social de construção de vivências, valores e de uma identidade social diferenciada do mundo urbano.

A questão do trabalho é central para a juventude camponesa e sua garantia e requer apoio e o investimento na agricultura camponesa.  Conforme dados governamentais é a agricultura camponesa que gera oportunidades e trabalho no campo. Dados do Censo Agropecuário do IBGE/2006 mostram que a agricultura camponesa mantém 12,3 milhões de pessoas ocupadas no campo, o que corresponde a 74,4% de todos os empregos gerados na área rural. Já o agronegócio mantém 4,2 milhões de pessoas ocupadas, apenas 25,3% dos empregos no campo. Em resumo, esses números significam que 7, de cada 10 empregos no campo, são gerados pela agricultura camponesa.

 

8.      Juventude e a necessidade de uma nova visão acerca da cultura camponesa

Além da invisibilidade social os jovens camponeses sofrem com os estereótipos e a visão negativa acerca do campo e do ser camponês. No Brasil se consolidou a visão que associa a população do campo ao atraso e ao não moderno. Uma simples consulta ao dicionário demonstra que campo e cidade são mais que simples expressões e palavras. Seus significados expressam e materializam um conteúdo valorativo que reforça as questões associadas ao urbano e depreciam o que se vincula ao campo. 

No dicionário a palavra cidade apresenta a seguinte definição: “povoação de primeira categoria em um país; no Brasil, toda sede de município, qualquer que seja a sua importância, os habitantes dessa povoação, o núcleo principal ou centro urbanístico dessa povoação, onde estão geralmente localizadas as casas comerciais mais importantes” e urbano “relativo ou pertencente à cidade, habitante da cidade, em oposição a rural, característico ou próprio da cidade, civilizado, polido, cortês, afável”

Já a palavra rural é definida como “pertencente ou relativo ao campo ou à vida agrícola; campestre, próprio do campo, situado no campo, agrícola, campesino, camponês, rústico e camponês ‘próprio do campo, rústico, o que mora ou trabalha no campo” e rústico pertencente ou relativo ao campo, próprio do campo, grosseiro, tosco, próprio da vida campesina, conforme ao uso do campo; próprio para o campo, grosseiro, ignorante, impolido, incivil, malcriado, rude, inculto, sem arte.

Uma rápida análise confirma que as palavras que se referem à cidade e ao urbano são adjetivadas como uma dimensão positiva (cortês, afável, núcleo principal) e campo e rural expressam uma concepção eminentemente negativa (tosco, ignorante, inculto). É importante destacar que as palavras são mais que palavras, carregam valores, ideologias e atribuem significados. No caso de campo e rural demonstram uma construção histórico-social que deprecia e marginaliza os trabalhadores (as) do campo.

Nesta perspectiva “o camponês brasileiro foi estereotipado pela ideologia dominante como fraco e atrasado, como Jeca Tatu (FERNANDES, B. CERIOLI, P. e CALDART, R. 2004, p.31)

É importante romper com esta visão, pois a valorização do campo e do ser camponês é fundamental para que os jovens não continuem a sofrer com os preconceitos presentes principalmente nas escolas, que reproduzem esta noção preconceituosa acerca do jovem camponês.

 

Juventude e Educação do Campo

Historicamente o direito à educação foi negado à população do campo. No contexto da década de 1980 se consolidou por meio da ação do movimento de educadores (as) a noção da educação como um direito humano. O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 demonstra a consagração deste direito ao prever que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”.

            Apesar dos avanços no terreno da educação e das políticas educacionais nas últimas décadas no Brasil, a realidade educacional do campo ainda é mais crítica se comparada com a cidade. São variados os desafios da Educação do Campo, pois “no campo persistem incrustados todos os crônicos problemas de nossa educação: analfabetismo, crianças, adolescentes e jovens fora da escola, sem escolas, defasagem idade-série, repetência e reprovação, conteúdos inadequados, problemas de titulação, salários e carreiras dos mestres” (ARROYO, 2004, p. 66). 

Os números apresentados pelo IBGE demonstram que a negação do direito básico da educação ainda persiste de forma mais acentuada no meio rural, pois 23,2% da população do campo não sabia ler e escrever no ano de 2010, contra 7,3% da população urbana. No ano de 2007 o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira publicou o documento “Panorama da Educação do Campo”. O documento revela que o cenário da Educação do Campo ainda é marcado pela precariedade se comparada com a educação no meio urbano.

Segundo dados do Censo Escolar do ano de 2005 existem 96.557 estabelecimentos de ensino no meio rural, o que representa cerca de 50% das escolas do País (207.234). A oferta da escolarização nas escolas do campo concentra-se prioritariamente nas primeiras séries do ensino fundamental, 71,5% dos alunos em escolas rurais de ensino fundamental estão matriculados de 1ª a 4ª série.

A ausência da oferta do Ensino Médio e do Ensino Superior no campo se coloca como um das grandes dificuldades para a efetivação o direito à Educação dos jovens camponeses. Além do acesso, as condições de infraestrutura das escolas do campo também são um desafio.  Em 2005, 29% das escolas do campo não possuíam energia elétrica. No que refere aos recursos pedagógicos e tecnológicos a situação é ainda pior: 93,5% das escolas não possuíam biblioteca, 94,4% quadra de esportes. Quando se olha para o acesso às novas tecnologias o cenário é de assustar. Apenas 1,1%, 1,4% e 7,4% das escolas do campo respectivamente possuíam acesso à internet, laboratório de informática e microcomputadores. 

 

9.      O protagonismo juvenil no campo

Nos dias de hoje os jovens camponeses participam ativamente dos movimentos sociais e organizações do campo. A organização e articulação dos jovens no meio rural mostram os limites do estereótipo que pensa e vê a juventude camponesa pela perspectiva do atraso. Estes jovens não estão condenados ao “isolamento”, pelo contrário também vivenciam as mudanças advindas com os avanços tecnológicos, materializados na internet e popularização das redes sociais.



 Em 1992 a campanha da Fraternidade também teve como tema a Juventude.

 

 A Organização Internacional da Juventude entende que esta fase da vida da pessoa compreende a faixa etária entre 15 a 24 anos. No Brasil, a lei que criou a Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e o PROJOVEM (lei 11129 – 30/06/2005), determina o período entre 15 e 29 anos. No presente texto, optamos pela classificação etária prevista pela lei do PROJEM.

 A análise dos dados populacionais no Brasil revela um processo que no campo ocorre um processo masculinazação. No espaço urbano a população feminina é a maioria, correspondendo a 51,87% das pessoas. No campo este cenário se inverte e as mulheres representam 49,40% da população. Entre os jovens nas cidades as mulheres somam 50,66% da população. Já no meio rural as jovens totalizam 46,98%. Esta realidade também é verificada no Paraná.

 

 Salientamos que todos os dados sobre a realidade da juventude do campo presentes na pesquisa citados aqui têm como fonte o artigo de (CARNEIRO, 2005).


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