DIZIMO É GRATIDÃO, NÃO PAGAMENTO, AFIRMA PADRE MARCOS TEIXEIRA

18 Nov 2013
2

 

“Cada um dará segundo o que tiver, em proporção das bençãos que o Senhor, teu Deus, lhe tiver dado” (Deuteronômio 16, 17)


Muitos perguntam quais as razões que motivam o cristão a devolver o dízimo, permitindo à Igreja Católica desenvolver suas atividades nas dimensões religiosa, missionária e social. A resposta é bastante simples: a motivação mais consistente é a fé. Pela fé em Deus o dizimista é levado ao compromisso para com a Igreja; a fidelidade ao compromisso faz crescer sua confiança e a confiança desperta a sua gratidão a Deus, fonte de todo o bem.

O cristão, ao tornar-se dizimista, observa de forma clara a retribuição de Deus ao seu gesto de partilha por tudo que recebe gratuitamente.

Conforme o documento 8 da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, publicado em 1975 e válido até hoje, muitas dioceses e paróquias vêm tentando institucionalizar a oferta do Dízimo, como um modo de partilha, com fundamentos bíblicos e teológicos, como gesto de fé e gratidão a Deus, devolvendo-se a Ele uma parte do que dele recebeu, repartindo com a Igreja e com os irmãos os frutos do próprio trabalho.

Para mostrar a importância do dizimo na vida da Igreja Católica, padre Marcos Antonio Teixeira, assessor diocesano do Serviço de Catequese e pároco da Paróquia Cristo Sacerdote, de Apucarana, salienta ser necessário um intenso trabalho missionário e evangelizador para ampliar o número de dizimistas nas paróquias. Aliás, o Dízimo quando bem compreendido e vivido necessariamente leva à missão e à evangelização, diz ele. “Pessoas conscientes da importância do dizimo jamais deixam de reconhecer o que recebem de Deus” afirma o padre.

 

- O que é o Dizimo?

PADRE MARCOS TEIXEIRA – É o gesto de reconhecimento por tudo o que o cristão recebe de Deus. É gesto de gratidão pela abundância de Graça Divina. O Dízimo ajuda a criar e alimentar uma íntima e profunda relação entre a pessoa de fé e Deus. Dízimo é, pois, compromisso de toda a pessoa de fé. Reafirmo que o Dízimo deve ser compreendido como partilha, sinal de fé, gratidão, solidariedade, fruto da generosidade, colocado a serviço da própria comunidade eclesial. Ele é diferente de outras ofertas ou coleta.

 

- Todo cristão tem que ser dizimista?

Padre Marcos – Dizer que todo cristão tem que ser dizimista é muito complicado, pois o Dízimo deve ser compreendido como resposta livre e amorosa ao Deus que tudo nos oferece. Na leitura da Bíblia encontramos várias citações sobre o assunto. Nela, vemos que o dízimo é compromisso de toda a pessoa de fé. Esta é uma prática vinda já do Antigo Testamento e os primeiros cristãos, que agiam assim e permitiram chegar até nós a mensagem de Jesus Cristo. Por entendermos assim, afirmamos que é nosso dever fazer com que as futuras gerações também conheçam a Deus. Se assim não for, como escreve Joel Leal Valentim no livro Dizimo – Sinal de Fé, nossa fé perde sentido.

Reporto-me também ao Código de Direito Canônico da Igreja Católica, onde está escrito que “os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros. Devem ainda promover a justiça social e, lembrados do preceito do Senhor, socorrer os pobres com as próprias rendas”.

 

- E obrigação do cristão destinar 10% do que recebe como Dízimo?

Padre Marcos – Dízimo, segundo o dicionário, quer dizer décima parte de um todo. Mas não podemos levar a ferro e fogo. Ao fazermos esta exigência, corremos o risco de forçar algumas pessoas a trazerem o seu Dízimo, perdendo o sentido da entrega, que deve ser feita com alegria e de livre vontade. É importante destacar que a devolução é espontânea e Deus sabe o que está no pensamento e no coração de cada um. Por isso, deve-se levar para a Igreja com alegria e consciente de estar sendo grato e justo com o Criador, Senhor de tudo e de todos.

 

- Isto é bíblico.

Padre Marcos – Sim. Em II Corintios 9, 7-8, está escrito: “Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria. Poderoso é Deus para cumular-vos com toda a espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas as coisas o necessário, vos sobre ainda muito para toda a espécie de boas obras”. A leitura dos Atos dos Apóstolos (20,35) é uma reafirmação e deixa claro que “há mais felicidade em dar do que em receber!”

 

- Para onde vai o dinheiro do dízimo?

Padre Marcos – Esta é uma pergunta feita com frequência e de fácil resposta. É o próprio dizimista que responde, quando vê o crescimento de sua paróquia nas três dimensões – social, missionária e religiosa. Na social, quando são criadas estruturas para o atendimento ao povo – salão paroquial, salas de catequese e formação pastoral, novas igrejas, atendimento aos necessitados; na religiosa, com os materiais litúrgicos, paramentos; e na missionária, para ações evangelizadoras dentro da comunidade, no exterior e no âmbito da diocese. Muitas atividades evangelizadoras são desenvolvidas graças aos recursos oriundos do dízimo que os católicos conscientes devolvem.

 

- Na dimensão espiritual, o que o dizimista percebe em sua vida?

Padre Marcos – Nos diversos momentos em que debatemos com a comunidade sobre a importância do Dizimo, mostramos que Deus nos dá a vida, força para o trabalho, inteligência para o seu desenvolvimento, concedendo ainda outros incontáveis dons e a pessoa de fé responde com parte do que recebe como gesto de gratidão e reconhecimento por tanta generosidade da parte deste Deus. Os testemunhos são inúmeros desta experiência fantástica de sentir a retribuição divina, confirmando aquilo escrito em Malaquias 3,10- ‘Tragam o dízimo completo para o cofre do Templo, para que haja alimento em meu Templo. Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês as minhas bênçãos de fartura’.

 

- Podemos afirmar que o dizimista é uma pessoa feliz?

Padre Marcos - Esta é uma realidade que não podemos negar. O católico consciente da importância do dízimo é feliz porque sente em sua vida a presença de Deus e a retribuição que recebe, não só na dimensão material, mas acima de tudo na espiritual. É bom lembrar que mãos que só recebem, ressecam. Elas foram feitas para receber e oferecer. É fundamental que exista um equilíbrio entre receber, agradecer, oferecer.

 

 - O que precisa ser feito para ampliar o número de dizimistas nas paróquias?

Padre Marcos – Creio que o mais importante não é a quantidade de dizimistas, mas a consciência com que se devolve e se vivencia o Dízimo. Quando bem compreendido e vivido, ele deixa de ser obrigação, imposição, taxa ou outra coisa qualquer, transformando-se em necessidade interior, algo que tem como fonte o coração. Entendo que os pais são chamados a serem os primeiros a criarem esta consciência de gratidão e reconhecimento. A catequese tem também papel fundamental neste aspecto, além, é claro, de uma Pastoral do Dízimo bem organizada e atuante. Não dá para pensar o Dízimo sem uma verdadeira e autêntica evangelização.

 

- Em sua paróquia, de forma específica, o que está sendo feito em relação ao Dízimo?

Padre Marcos – Há uma conscientização da comunidade sobre a importância do dízimo para a vida paroquial. Tivemos um intenso trabalho de conscientização dos paroquianos e os resultados são vistos durante a missa dos dizimistas, pois elas têm uma grande participação. É possível sentir a alegria destas pessoas em trazer até o altar parte do fruto do seu trabalho. Dizimistas relatam para outros membros da comunidade suas experiências de sentir em suas vidas uma maior intensidade de graças divinas. Digo sempre que dizimista evangelizado se torna verdadeiro evangelizador. E o trabalho de conscientização não pode parar. E um outro elementos fundamental na vivência do dízimo é a oração. Sem ela, ele não se justifica e não se sustenta.

 

- A comunidade pede prestação de contas do destino do dinheiro do Dizimo?

Padre Marcos – Mesmo que ela não peça, é necessário fazer para mostrar a transparência nas ações da Igreja. O povo, de uma forma geral, tem que saber onde estão sendo aplicados os valores oriundos do Dizimo. Em nossa paróquia, basta ver as obras em andamento e as já realizadas para ver onde está aplicado o dinheiro e o que se faz pela formação do cristão.

 

Citações Bíblicas

 

“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e dividiam por todos, conforme a necessidade de cada um”. (Atos 2, 44-45)

 

“E Jesus perguntou: De quem é a figura e inscrição nesta moeda? Eles responderam: É de César. Então Jesus disse: Pois devolvam a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Ouvindo isso, eles ficaram admirados. Deixaram Jesus e foram embora.” (Mateus 22, 20-22)

 

“Todos os Dízimos do campo, seja produto da terra, seja frutos das árvores, pertencem a Javé, é coisa consagrada a Javé. Os Dízimos dos animais, boi ou ovelha, isto é, a décima parte de tudo o que possa sob o cajado do pastor, é coisa consagrada a Javé”. (Levítico 27, 30; 32)

 

“No lugar que Javé seu Deus tiver escolhido para fazer habitar o seu nome, aí é que vocês levarão tudo o que lhes ordenei: holocaustos, sacrifícios, Dizimos, donativos e todas as ofertas escolhidas que tiverem prometido como voto a Javé”. (Deuteronômio 12,11)

 

“Honre a Javé com as suas riquezas e com os primeiros frutos de todas as suas colheitas. Desse modo, seus celeiros estarão cheios de trigo e seus tonéis transbordarão de vinho novo”. (Provérbios, 9-10)

 

“Saibam uma coisa: quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher; quem semeia com generosidade, com generosidade há de colher. Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria. Deus pode enriquecer vocês com toda espécie de graças, para que tenham sempre o necessário em tudo e ainda fique sobrando alguma coisa para poderem colaborar em qualquer boa obra, conforme diz a Escritura: ‘Ele distribuiu e deu aos pobres, e sua justiça permanece para sempre’”. (2Corintios 9, 6-13)

 

As Dimensões do Dízimo

 

- Pelo Batismo nos tornamos filhos adotivos de Deus e membros de sua Igreja.

- Assumimos desde então o compromisso de fidelidade a Deus e o dever de prestar-lhe um culto de louvor, estabelecendo-se a dimensão religiosa do nosso ser cristão.

- Esse mesmo compromisso de fidelidade a Deus exige de nós o cuidado para com o nosso próximo pois não é possível amar a Deus a quem não se vê se não amamos ao nosso próximo a quem vemos. É a dimensão fraterna ou social do ser cristão.

- Ainda pelo mesmo compromisso de fidelidade a Deus somos convocados a proclamar o Evangelho a todos os povos, na dimensão missionária de todo batizado.

- Como podemos perceber, toda a ação pastoral da Igreja está envolvida com estas dimensões. Seja a catequese, a liturgia, os cuidados com os doentes, os jovens, os idosos, etc. Assim, a catequese da primeira eucaristia, por exemplo, procura preparar os catequisandos para a recepção da primeira comunhão e de todas as outras que hão de vir. Mas a comunhão só é possível quando acontece com Deus e com o próximo e quando dá sentido à missão de evangelizar que compete a todo batizado.

- Assim, também o dízimo que é a retribuição a Deus de uma parte de tudo o que Ele nos dá, contempla essas 3 dimensões quando aplica os recursos partilhados pela comunidade.

- Na dimensão religiosa o dízimo deve suprir com recursos, todas as necessidades direta ou indiretamente ligadas ao culto e aos seus ministros. Gastos com o templo – construção e manutenção, salário do padre e dos funcionários, encargos, energia elétrica, água, telefone, impressos, paramentos litúrgicos, velas, vinho, hóstias, equipamentos de som e audiovisuais, etc.

- Na dimensão social o dízimo deve suprir as necessidades dos irmãos mais necessitados da comunidade, atendidos pelas pastorais sociais. Mas também é importante que nossas pastorais sociais superem o mero assistencialismo e busquem a promoção do ser humano, a conscientização dos direitos e deveres de todos, sem deixar de exercer a misericórdia, a justiça e a compaixão, em vista de resgatar a dignidade dos irmãos assistidos.

- Na dimensão missionária, o dízimo deve sustentar financeiramente as ações de evangelização da comunidade exercidas fora do território da paróquia. Ajuda à Cúria, ao Seminário e às missões de um modo geral.


2 Comentários

Diane Rafaela

17/06/2020
Sou coordenadora do d?zimo iniciante, foi muito bom as explica??es contidas nesse texto. Entendi muitas coisas sobre ser dizimista e ainda a certeza de que e b?blico. Obrigada

Eliane Pe?anha

29/03/2021
Sempre soube que teria q dizimar mas n?o compreendia o motivo agora vou dizimar correto