Entrevista com o Padre José R. Rezende sobre o resgate histórico da Diocese

25 Fev 2015
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"Essa experiência é fascinante. Pois não é segredo para ninguém o apreço que possuo pela história..." (Padre José Roberto Rezende)

Pensando na comemoração do Jubileu de Ouro da Diocese de Apucarana, o Conselho de Presbíteros, juntamente com o Bispo Dom Celso Antônio Marchiori, decidiram que existia a necessidade de um resgate histórico de nossa Igreja Particular, e essa missão ficou a cargo do Padre José Roberto Rezende, atualmente Pároco da Paróquia Santa Rita de Cássia de Arapongas.

Desde a morte do Bispo Dom Domingos Gabriel Wisniewski o Padre vem compondo o acervo do futuro Museu Diocesano, se tornando seu curador e membro da Comissão Histórica do Jubileu Áureo da Diocese. Nossa equipe entrou em contato com o Padre José Roberto Rezende que concedeu uma entrevista exclusiva. Acompanhe:                

D.A - Como surgiu à idéia de realizar um resgate histórico da Diocese de Apucarana?

Padre José Roberto Rezende: A primeira ideia surgiu quando o Sr. Bispo Dom Celso Antônio Marchiori comunicou-me a decisão do Conselho Presbiteral em nomear-me responsável por reunir o espólio de Dom Domingos Gabriel Wisniewski CM, para compor o acervo de um futuro Museu Diocesano. A essa situação agregou-se posteriormente o pedido em uma reunião dos presbíteros que eu ficasse responsável em reunir os dados biográficos para o Epitáfio de Dom Domingos. O qual já se encontra na cripta da Catedral desde 28 de agosto de 2014. A isso somou-se a iminência das celebrações do Jubileu e o acervo de documentos do Jornalista Francisco Soares Dias Sobrinho para a edição e publicação de um livro. Desse modo, fui indicado pela Comissão do Jubileu a coordenar esse trabalho. Nesse ínterim surgiu também a necessidade de uma placa comemorativa para ser afixada na Catedral Diocesana. Placa esta com os principais dados históricos da Religião Católica em nosso meio. A mesma deverá ser concluída para a celebração do Jubileu no próximo dia 26 de março.

 

D.A - Como está sendo esta experiência?

Padre José R. Rezende: Essa experiência é fascinante. Pois não é segredo para ninguém o apreço que possuo pela história. Tenho me desdobrado. Dias atrás somei em duas noites um total de seis horas e meia de sono. Claro que não pensei mais nisso. O que me importa não é nem como ficará o trabalho. O importante é que estou fazendo o melhor pra tão grande ato.

 

D.A - Quais são os principais desafios que o senhor esta enfrentando para realizar tal resgate?

Padre José R. Rezende: O grande desafio é o que a história encontra em toda parte, a saber, a falta de documentação. O atropelo nas responsabilidades, a sobrecarga nos afazeres, a falta de reconhecimento, entre tantos, fizeram com que nossa história perdesse muito de seus dados importantes. E ainda muitas pessoas resistem em reconhecer que apesar das limitações de nossos antecessores, eles construíram parte importantíssima de nossa história. Do mesmo modo que hoje prosseguimos a mesma construção.

 

D.A - O que mais chamou atenção do senhor neste processo?

Padre José R. Rezende: A garra, a energia, a dedicação dos pioneiros. Saber que o Padre Francisco Butemmüller SAC, foi a pé de Jaguapitã a Santo Inácio, em meio à mata imensa, para lá celebrar a primeira Santa Missa aos 8 de setembro de 1942. Ou então que o Padre Carlos Probst SAC em companhia do único morador da região, o  sitiante Domingos Tomadon e Dr. Anísio – advogado de Sertanópolis - na clareira da derrubada na mata erigiram um altar em 2 de janeiro de 1946, onde o Padre celebrou a Santa Missa. E nesse local está hoje a cidade de Cafeara. Ou então ver as fotografias e descrições feitas pelo Pe. Narcizo Zanatta – Pároco de Ivaiporã. Lá podemos visualizar o levantamento dos cruzeiros e capelas de madeiras onde estão hoje todas as paróquias abaixo do Rio Ivaí e que na sua época formavam uma única Paróquia. E mais, quantos padres moraram nas sacristias ou em pequenas casas próximas às Igrejas e juntos com o povo construíram e estruturaram tudo o que vemos hoje. Ou então a presença da Vida Consagrada nos Religiosos e Religiosas em Escolas, Hospitais, Creches, Asilos, Paróquias e Diocese, contribuíram tanto na obra da Evangelização e hoje sequer são lembrados. Lembro também o empenho do nosso povo – na sua maioria residindo na zona rural – em acatar as orientações diocesanas para a formação das Igrejas Base. Bem como a organização das atividades nas Capelas que até o Concílio Vaticano II consistiam na chamada “missa do mês”, no catecismo e nas irmandades e associações para os diversos serviços nas agora chamadas  Diaconias.

 

D.A - Como serão disponibilizados os conteúdos deste resgate para os membros da Diocese de Apucarana?

Padre José R. Rezende: Evidentemente que apesar de muito ter se perdido, muito foi encontrado. O Livro do Jubileu de Ouro contempla muito bem nossa história. Deverá ser lançado em 26 de março próximo. Depois temos um considerável acervo reunido para a formação do Museu Diocesano. Parte desse acervo já está reunido, outra parte ainda está nas Paróquias que já os disponibilizaram, mas ainda nos faltam acomodações para tanto. E o que for de documentos e relatos penso que caberão muito bem no site da Diocese. Além disso, penso que aqui estão lançadas as bases para um próximo e bem próximo livro narrando os fatos históricos detalhados de cada uma das Paróquias: os primeiros moradores das localidades, os esforços para a organização pastoral, a narrativa das construções das Igrejas, Salões e Casas Paroquiais, Centros de Catequeses, Colégios, Asilos, Hospitais, Casas de Retiros e Formação e demais estruturas  de ontem e de hoje. Bem como um acervo de fotografias.

 

D.A - Considerações finais:  

Padre José R. Rezende: Penso que é hora de agradecermos ao Bom Deus por tantas realizações. Pois entre lutas e glórias, infortúnios e sucessos chegamos até aqui. No Ano Jubilar  - nos ensina a Sagrada Escritura – é tempo de Agradecer e Perdoar. Ninguém celebre o Jubileu carregando o pesado fardo das angústias e ressentimentos pelas ofensas recebidas e/ou dispensadas. Vamos nos purificar e permitir um novo tempo. Vamos escrever uma nova história onde nos reconhecemos humanos e limitados. Entretanto, sedentos, seguidores e servidores do Altíssimo Deus.  É o momento de se recompor energias, tomar novo alento e prosseguir. A história não se reduz aos dados e fatos do passado. A história como as águas de um rio se renovam sempre, à medida que mais e mais com um mesmo ideal seguem serpeando entre as agruras, sofrimentos e realizações pelo vale imenso e  belíssimo que é a nossa vida, rumo ao grande Oceano da Infinita Misericórdia que será a Parusia. A Imaculada e sempre Virgem de Lourdes continue nos instruindo com as águas da purificação e a força da oração a escrevermos a mais bela das páginas da história, a saber, a da existência pessoal e coletiva da Santa Igreja na Diocese de Apucarana.

Pe. José Roberto Rezende  - cooperador da voz da história  do Povo de Deus na Diocese de Apucarana.

Lembrando que as principais peças do acervo do futuro Museu Diocesano estarão na Exposição Cinqüentenário da Diocese de Apucarana, que acontecerá no dia 10 de abril (sexta-feira) no Cine Teatro Fênix de Apucarana, a partir das 19 horas com a entrada franca.

Entrevista realizada por Douglas Felippe

Supervisão: Decélia da Silva 


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