Palavra do Bispo

Queridos padres de nossa amada Diocese de Apucarana

25 Mar 2020

Hoje, dia 25 de março, celebramos com fé e alegria a Solenidade da Anunciação do Senhor. Iniciamos nosso dia com a Oração do Pai Nosso, juntamente com o Papa Francisco, suplicando o fim desta Pandemia, que, inevitavelmente, provoca em nós inquietações e um certo temor. Creio que nenhum de nós esperava viver um momento tão delicado como esse. Mas, se Deus o permite, é porque nos concederá a força e a paz para o superarmos. Em tais circunstâncias, somos chamados a viver de forma mais intensa a nossa fé. Vivendo esses dias de isolamento social, gostaria de partilhar com os senhores alguns pontos que brotam do meu coração:

1. “Cuidai de vos mesmos” (At 20,28a). Cuidemos de nossa saúde espiritual e mental. Diante da ameaça do Covid 19, devemos cuidar de nós mesmos, em todos os aspectos, para podermos ajudar nossos fiéis. Não deixemos que a sensação de caos, desorientação, ou a possível crise geral nos desmonte mentalmente e espiritualmente. Aproveitemos esse tempo para rezarmos mais, para ouvirmos a Palavra do Senhor e com Ele dialogarmos mais intensamente. Detenhamo-nos longamente diante do Santíssimo Sacramento e permaneçamos na materna presença de nossa Mãe Maria. Exorto a todos: cuide de sua saúde mental. Nada de radicalismos, nem fideísmo, nem racionalismo, nem neo-pelagianismo, nem neo-gnostisismo. É necessário, nesse momento, termos aquela calma e serenidade que brotam do coração de quem confia plenamente em Deus e aguarda dias melhores. Preservar a mente é essencial para servirmos melhor aos nossos irmãos e irmãs, que, isolados, também sofrem. Claro que para isso ajuda muito o contato pelas redes sociais com os colegas de presbitério, com os amigos e familiares, que nos mantem juntos, mesmo à distância.
O bom humor também é sadio e desejável, visto que ‘alegria do Senhor é a nossa força’. Creio que vale a recomendação de São Carlos Borromeu: “o melhor meio para evitar qualquer perigo é conservar a alma ardorosa e tranquila”.

2. “E do rebanho que vos foi confiado” (At 20,28b) Sejamos criativos. Nesse tempo de isolamento social, em que não podemos ter contato físico com nossos paroquianos é muito importante que sejamos criativos. O Papa Francisco nos pediu: “Gostaria também de agradecer a todos os sacerdotes, a criatividade dos sacerdotes. Chegam tantas notícias da Lombardia sobre essa criatividade, é verdade... Sacerdotes que pensam mil maneiras de estar próximos ao povo, para que o povo não se sinta abandonado, sacerdotes com o zelo apostólico que entenderam bem que em tempos de pandemia não se deve ser como ‘Don Abbondio’. Muito obrigado a vocês, sacerdotes”. O Papa nos pede que sejamos Pastores com cheiro de ovelhas também nesse momento de isolamento social. Sejamos criativos. Inventemos formas de estarmos próximos. Ligue para os coordenadores de pastorais, movimentos, serviços de suas Paróquias. Todos estamos com medo. Um membro do CAEP, por exemplo, recebendo um telefonema do seu padre, não para falar sobre assuntos paroquiais, mas para perguntar como ele está, como está sua família, certamente ficará alegre, feliz e se sentirá cuidado pelo seu pastor nesse momento. A presidente do Apostolado da Oração, da Promoção Humana, dos Vicentinos, do Terço dos Homens, etc., quanta alegria sentirão ao serem lembrados pelo seu padre: aquele vizinho da casa paroquial, também aquele velho benfeitor, aquela simples senhora que acolhe o povo toda semana na porta da igreja, todos ovelhas de seu rebanho, que se encontram na mesma situação. A sua voz, sua preocupação de pai espiritual, enfim, sua mensagem fará um bem enorme, para todos e para si próprio. Tantas outras iniciativas poderão ser criadas, inventadas por todos nós neste momento.
Tenho certeza de que os senhores, zelosos e atentos pastores, já estão fazendo isso. Partilhem, por favor, suas iniciativas e criatividades para a ação evangelizadora em época de Pandemia.

3. “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Celebrem a Santa Missa diária, como se fosse sua primeira Missa. A Santa Missa sem a participação física dos fiéis nos causa imensa dor e estranheza. Eu tenho a certeza de que os senhores estão celebrando diariamente a Eucaristia e se fortalecendo com Ela. Nesse momento diferente, que passará logo, com a graça de Deus, podemos contemplar melhor a nossa peculiar vocação sacerdotal. Recordemos o dia de nossa Ordenação Sacerdotal quando prometemos com alegria ao sermos questionados pelo Bispo: ‘Quereis celebrar com fé e piedade os mistérios de Cristo, segundo a tradição da Igreja, para louvor de Deus e santificação do povo cristão, principalmente no sacrifício da Eucaristia e no sacramento da reconciliação? Quereis implorar, juntamente conosco, a misericórdia divina para o povo a vós confiado, cumprindo sem desfalecer o mandato de orar? ’ “Sim, quero...”. Nosso quero foi forte, alegre e decidido... Agora, ao celebrarmos a Santa Missa o fazemos pelo povo, em nome de todo o povo ausente de corpo, mas presente pela fé. E, essa porção do povo de Deus, entregue aos nossos cuidados, confia em nossa oração, na Missa que estamos celebrando.
Tenho confiança de que estais celebrando com alegria, para que “receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para a glória de seu nome, para o nosso bem e de toda a santa Igreja” (Missal Romano).

4. “Não tenhais medo” (Mt 14,27). Peço aos senhores que não tenham medo! Tomemos todo o cuidado e sigamos as orientações das autoridades sanitárias, mas atendamos, com os devidos cuidados, aqueles que nos procuram para a confissão e para a comunhão individual. É o Papa Francisco quem nos pede: “Rezemos ao Senhor e também pelos nossos sacerdotes para que tenham a coragem de sair e ir ao encontro dos doentes, levando a força da Palavra de Deus e a Eucaristia, e de acompanhar os profissionais de saúde, os voluntários, nesse trabalho que estão fazendo”. Disto estão dispensados, obviamente, os que fazem parte do grupo de risco. Claro, também, que nenhum padre deverá deixar sua Paróquia. É hora de permanecermos em nossas casas paroquiais e em nossas Paróquias. Nós fazemos parte daquele grupo – profissionais da saúde, trabalhadores de estabelecimentos alimentícios, comunicadores, policiais, caminhoneiros, frentistas, outros – que, por amor ao povo, devemos estar a serviço nessa hora, tomando os devidos cuidados, mas sem nos isolarmos em uma bolha de pessoal segurança.
Nossa missão não é como de atletas famosos e artistas de TV, que agora podem “descansar” e esperar o perigo passar. Junto ao nosso povo permaneceremos com a alegria de presbíteros, discípulos missionários de Jesus Bom Pastor.

5. “Recomendaram-nos que nos lembrássemos dos pobres...”(Gal 2,10). Lembro também de nossos irmãos mais pobres e os que serão empobrecidos durante essa situação. Desde já nos preocupemos em como poderemos ir em auxilio dos que mais necessitam. Precisaremos de muita criatividade, imaginação e atitudes concretas para os socorrermos. A Pandemia deixará suas graves consequências em nossa economia, já excludente. Os pobres sofrerão mais e nós, mesmo em nossas limitações, deveremos atendê-los. O alimento da alma e do corpo do nosso povo mais necessitado, penso, deverão ser nossas prioridades.
Termino manifestando toda alegria de estar em comunhão com os senhores, também neste momento difícil. Juntos, como presbitério, iremos atravessar esta Pandemia e, juntos também, enfrentaremos suas consequências, sempre unidos entre nós e com o Senhor de nossas vidas. Peço que vivamos e divulguemos muito a Benção Urbi et Orbi, com a concessão da Indulgência Plenária, no próximo dia 27, às 14h (aqui no Brasil). Os diversos meios de comunicação social de inspiração católica transmitirão este momento em que o Papa Francisco nos concede esse dom que nos fortalecerá e animará, dando-nos a coragem necessária para passarmos por esses momentos e dele sairmos fortalecidos.

O Senhor está conosco ! Com “Maria, Mãe de Jesus”, sigamos em frente como Bons Pastores de nosso amado Povo. Rezo pelos senhores e peço suas orações!
 
Grande abraço e benção!
 
+ Carlos José
 Bispo Diocesano 
 
Apucarana, 25 de março de 2.020.

Assessoria de Comunicação Episcopal 

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