Palavra do Bispo

TEMPO DA CRIAÇÃO

05 Set 2020

Havia quatro pessoas: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um E ninguém. Diante de um propósito muito importante a ser realizado, Todo Mundo tinha certeza de que Alguém o faria. Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez. Alguém se zangou pois era para Todo Mundo fazer. Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo deixasse de fazê-lo. Ao final, Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia e deveria ter feito.
LOUVADO SEJAS, MEU SENHOR! 
Depois de cinco anos da publicação da Encíclica Laudato Si, somos exortados a refletir sobre o nosso compromisso de cristãos, discípulos/missionários no cumprimento diário de administrar, com amor e caridade, a nossa “Casa Comum”, ou seja, o mundo criado e desejado por Deus. De 1 de Setembro a 4 de outubro celebramos, de forma ecumênica o Tempo da Criação. Somos chamados pelo Papa Francisco a rezarmos, contemplarmos e assumirmos compromisso com a obra divina da criação. No Brasil, celebramos o mês da Bíblia: Abre tua mão para o teu irmão (Dt 15,11). A partir da Sagrada Escritura e no amor aos irmãos queremos a verdadeira conversão. Na Onipotência Divina, tudo foi criado de forma interligada e perfeita, de modo que, toda a obra da criação se funde e se completa, formando um ‘lugar comum’, onde todos possam viver a plenitude do amor. E a nós foi dada a responsabilidade de zelar, e zelar bem por toda a obra criada. O Livro do Gênesis nos mostra com muita clareza o desejo de Deus e seu mandado para nós: sermos administradores de toda a criação, não proprietários, mas cuidadores da “Casa Comum”, do planeta em que habitamos. Visivelmente, se a natureza sofre por causa do mau uso que dela é feito, toda criatura sentirá e sofrerá as consequências negativas, seja direta ou indiretamente. O sentido de dominar sobre todas as espécies, conforme nos relata o Livro do Gênesis, não consiste no poder absoluto de poder fazer-se o que se deseja, destruindo o propósito do Criador, saqueando a criação como se dela fossemos donos. Antes, dominar sobre tudo, significa olhar com caridade, preservar a Criação como um verdadeiro bem comum (pois é assim), para que todos tenham vida plena, usufruindo com alegria do que Deus preparou, sem distinção, para todas as gerações. Inúmeras vezes, desde o princípio da Criação, o homem se sobrepõe ao Criador, achando-se autossuficiente, e capaz de viver por si mesmo, comprometendo o Projeto de Deus. Como São Francisco tão bem poetizou em sua composição “Louvado seja Meu Senhor, por todas as suas criaturas”, a Encíclica Laudato Si nos remete a repensarmos nossas atitudes, nas pequenas coisas que fazemos cotidianamente, a olhar à nossa volta sob a Luz Eucarística, que ilumina a tudo com o mesmo olhar amoroso com que Cristo nos olhou do alto da Cruz ao se entregar por nós. Quem, verdadeiramente se encontra com Cristo Crucificado/Ressuscitado, consegue perceber a necessidade da conversão ecológica que parte literalmente do interior para o exterior, da mudança de paradigmas, assumindo para si a parte que lhe cabe da responsabilidade pelo todo, agindo, cada qual na sua capacidade, para melhorar e preservar a Casa Comum. Uma humanidade que vive o desenfreado desejo de ter e de poder, da ganância do acumulo de bens, do egoísmo, do deixar para o outro aquilo que cada um deve e pode fazer, morre a cada dia, sem ar, sem água, sem fé, sem amor a Deus e sem vida em plenitude. Se faz premente um novo estilo de vida, educativo, social, cultural e espiritual, onde todos os olhares se convirjam para uma única direção: o bem comum, nosso e das futuras gerações, tendo a certeza da vida eterna com Cristo, na eternidade. O pecado pessoal contra a natureza, a omissão em relação ao cuidar melhor da criação e das criaturas, gera consequências quase que irreparáveis a todos e a cada um. Todos, sem exceção, somos administradores escolhidos pelo Criador. O que estamos fazendo?

+Dom Carlos José
Bispo de Apucarana