“E Deus olhou tudo o que havia feito, e viu que era bom” (Gn, 1)
Iniciamos o Mês de Outubro, mês missionário, Mês da Padroeira do Brasil, mês da Semana Nacional da Vida, mês do Dia das crianças. Tantas celebrações nos fazem refletir e voltar ao Belo de Deus. São muitas as vozes que ressoam em nossos ouvidos levando nossa mente a relativizar tudo e todos. O relativismo é danoso e mata os valores essenciais da vida humana, nos levando a ver tudo como normal e correto, tirando-nos o discernimento do certo e errado, minando em nós a vivência dos verdadeiros valores cristãos. Precisamos reeducar nossos ouvidos, nossa língua, nosso olhar e nosso coração.
Estamos nos acostumando a ouvir todo tipo de voz, a falar sobre tudo, como se de tudo entendêssemos e a olhar a realidade com olhos alheios. Infelizmente somos, diariamente, levados a pensar o pensamento dos outros, que, nem sempre, ou quase nunca (triste realidade) é o mesmo pensamento de Jesus. São incutidas em nós novas filosofias de vida que geram a morte de valores, nossos e dos que vivem ao nosso redor. Basta olharmos a degradação da natureza, a desvalorização e a banalização da vida no ventre materno e a exaltação da possibilidade de qualquer espécie de vida fora do nosso planeta. Tem mais aceitação a palavra dos entendidos de tudo, do que a Palavra por excelência do Senhor Jesus. É triste pensar que a Verdade de Deus esteja sendo, há séculos, destituída de credibilidade, ou mal interpretada, sendo colocada como algo sem importância para tantos, ou transformada de acordo com a necessidade de cada um.
Repassamos tantas mensagens frívolas nas redes sociais e por vezes falta-nos coragem de fazer o mesmo com a Palavra de Deus, por receio de ofender ou melindrar as pessoas, ou mesmo por medo de nos expormos como verdadeiros cristãos. É preciso ouvir e ler a Palavra de Deus, crer Nela e pô-La em prática e, munidos da unção espiritual, transmitir os ensinamentos da Santa Igreja e da Verdadeira Palavra que nos instrui a sermos como realmente Deus quer que sejamos: homens e mulheres feitos à Sua imagem e semelhança, instituídos de dons e carismas, que, com alegria, vivem e testemunham o ser cristão de verdade.
O Papa Francisco, em sua Encíclica Laudato Si, nos chama à contemplação, a voltarmos nossa mente e coração ao que é essencial, sem desprezarmos, claro, o tão importante progresso científico, as descobertas que geram bem-estar ao mundo, à saúde e à convivência fraterna. Há uma rede de comunicação que nos põe ao par de tudo o que acontece instantaneamente, entretanto, estamos afastados daqueles que nos são mais próximos. Essas constatações são propícias e nos exortam a reeducarmos nossos sentidos, conforme o Olhar do Criador. Exercitar a contemplação com um olhar mais aguçado, não de quem enxerga o todo, mas de quem olha com amor e vê mais além, vê cada detalhe da obra de Deus, que está bem à vista, próximo de nós. Olhar um tronco de árvore queimado, pelas más ações humanas e perceber que ali havia vida, folhas, frutos, sombra, ar puro. Essa é a essência da contemplação, perceber os detalhes, a beleza, a importância da natureza, ver nela o reflexo do Criador.
A vida humana se baseia em três relações fundamentais, que estão intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a natureza. A Palavra de Deus sempre será a essência da vida cristã, Ela nos adverte, ensina, corrige e abre caminhos para a contemplação, fazendo-nos ver a presença de Cristo em toda Criação.
O homem evoluiu, Deus assim o permitiu. Essa evolução, porém, não exclui a essência do ser e viver: somos de Deus, nossa raiz é Deus, somos galhos da mesma videira, Cristo Salvador. “Há algo que não devemos nos esquecer: quem não sabe contemplar a natureza, a criação, não sabe contemplar as pessoas na sua essência, e quem vive para explorar a natureza, acaba por explorar as pessoas, e as trata como escravos. Essa é uma lei universal, se não sabes contemplar a natureza, será muito difícil que saibas contemplar as pessoas, a beleza das pessoas, o irmão, a irmã, todos nós” (Papa Francisco). Que Nossa Senhora nos ajude em nossa caminhada!
+Dom Carlos José
Bispo de Apucarana