Palavra do Bispo

Finados

29 Out 2020

A alguns passos para o encerramento do Ano Litúrgico, a Igreja celebra no dia primeiro de novembro o “Dia de Todos os Santos”, data instituída para honrar todos os Santos e Santas de Deus que, embora não tenham uma data particular para sua comemoração no calendário litúrgico, estão coroados da glória de Deus no Céu. Nesse dia, a Igreja Militante, que luta na terra, honra a Igreja Triunfante, que está no Céu, prestando homenagem, numa única solenidade, a todos que alcançaram a salvação e desfrutam da visão beatífica de Deus. A comemoração de todos os Santos nos recorda que recebemos no nosso Batismo a vocação universal à santidade, e, principalmente, nestes tempos tão áridos de fé e esperança, precisamos exercitá-la, pois, intrínseca à nossa humanidade, deveríamos passar nossos dias lutando para alcançá-la: a graça de sermos santos, como Cristo, como o Pai Celeste. A santidade começa na simplicidade, obediência, caridade e amor a Deus e ao próximo, sem o intuído de aparecer ou de ser celebridade, nem de receber algo em troca. Ao contrário, a busca pela santidade deve almejar apenas e tão somente amar a Deus cada vez mais. O caminho da santidade é árduo, repleto de dificuldades e tentações, exige uma luta diária contra o pecado, passa pela cruz, pela renúncia e muitas vezes, pela humilhação e chacota. Exige um constante combate espiritual, uma vida de oração e vivência sacramental e, acima de tudo uma entrega total nas mãos do Senhor. São João Paulo II, durante o seu Papado, enfatizou por várias vezes que a santidade é dom de Deus e é fruto do esforço e da perseverança pessoal, dizendo que devemos ser santos no hoje e na realidade onde vivemos. “Sede santos, assim como vosso Pai Celeste é Santo” (Mt 5,48). Que Ele, São João Paulo II nos ajude. No dia dois de novembro a Igreja celebra o Dia de Finados, logo após a Solenidade de todos os Santos. Muito apropriada essa sequência, pois, peregrinos neste mundo, caminhamos para a morada eterna, e lá chegaremos pela Misericórdia Divina, segundo o que e como vivemos aqui na terra. Se nos esforçamos para sermos santos, à Imagem e Semelhança de Cristo, a morte não será para nós o fim, será a realização dos desígnios de Deus, que deseja que vejamos a sua Glória “Se morremos com Cristo, com Ele viveremos” (Rm 6,8). A celebração dos féis defuntos é muito antiga e supre a necessidade do homem de homenagear e fazer memória de seus antepassados. Os cristãos recordavam seus entes queridos falecidos e lhes dedicavam orações em sufrágio de suas almas, até que se instituiu uma data única, por volta do século XII, para que todos os mortos fossem lembrados e tivessem suas almas recomendadas a Deus. Rezar pelas almas é um ato de fé e uma obra de misericórdia, acender velas demonstra que cremos na Luz da Vida que é Cristo Jesus e ornamentar com flores os túmulos refletem nossa esperança Naquele que faz novas todas as coisas. No Corpo Místico de Cristo, os cristãos se encontram, os dons se tornam oração mútua, e, na dimensão da fé madura e firmada na Palavra, entendemos o valor das preces oferecidas pelos mortos, em especial, o Santo Sacrifício da Missa, que é memorial da Páscoa do Senhor, quando todas as almas são lembradas. Aos que tem fé, as portas da vida eterna sempre estão abertas. Não fomos criados para parar na morte, temos em nós o desejo da plenitude, porém, ao mesmo tempo, nos assusta o temor pelo eterno, pelo desconhecido, portanto, a vida que vivemos deve ser um constante preparar-se para a definitiva e gloriosa vida junto a Deus, com Cristo. “A eternidade não é um contínuo suceder-se de dias do calendário, mas algo como o momento de realização, cuja totalidade nos abraça e nós, por nossa vez, abraçamos a totalidade do Ser, da Verdade e do Amor” (Bento XVI). A morte faz parte da natureza humana e nós cristãos, desde a nossa origem, estamos imergidos no mistério da Vida, Morte e Ressurreição de Jesus, que, como Homem, experimentou a crueldade da morte na Cruz e, vencendo-a, nos garantiu a ressurreição definitiva. Para os que creem, a vida não é tirada, mas é transformada, e certamente almejamos ‘entrar na vida eterna, com a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, Nossa Senhora de Lourdes, os apóstolos e todos os santos que na vida souberam amar Cristo e seus irmãos’ (Lit. Euc V).
+Dom Carlos José
Bispo de Apucarana
Assessoria da Comunicação Episcopal