QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2021
Eis que chega para todos o momento propício para uma revisão de vida, seja na fé, seja no cotidiano. Na Quaresma de 2.021, em meio a uma pandemia que exigiu e continua exigindo uma nova forma de comunhão e unidade, mesmo que à distância daqueles que mais amamos. O período quaresmal compreende os quarenta dias que antecedem a Semana Santa, iniciando-se na quarta-feira de cinzas indo até a véspera do Domingo de Ramos. O tempo quaresmal está intimamente ligado aos quarenta dias que Jesus passou no deserto, em oração e jejum, sofrendo tentações e profundas angústias. Esse período de quarenta dias deve ser vivido por nós como um tempo de purificação e renovação interior. No Brasil, na Quaresma, somos chamados a viver a Campanha da Fraternidade, que, neste ano, faz uma exortação muito importante sobre a convivência humana, tão dividida por interesses tão diversos e, na maioria das vezes, tão escusos e unilaterais. Tendo como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef2,14a), a CF nos mostra a necessidade que temos, todos, sem exceção, de promovermos o diálogo aberto e sincero e assim, nos abrirmos à unidade fraterna. Pode parecer um sonho imaginar a possibilidade de diálogo com quem pensa diferente, age diferente e se fecha para novas oportunidades de comunhão fraterna. Diante do Criador, somos todos iguais, pois, enquanto criaturas, formadas por Deus, criadas em Cristo, temos como ponto de partida um conteúdo comum: somos seres vivos, participantes da Criação, e, consequentemente, do projeto divino de vida, e vida em abundância, para todos. Em Deus não há discriminação, nem preferidos. Deus ama a todos, sem distinção. O dia em que tomarmos posse dessa verdade divina, certamente nos voltaremos com mais fidelidade aos braços amorosos do Pai. Nosso diálogo deve-se iniciar em primeiro lugar, com o próprio Deus, numa oração sincera e direta, é a Ele que devemos perguntar: “Senhor, que queres que eu faça? ”, como fez Saulo ao ser interpelado pelo próprio Cristo. E, mais do que falar, é bom que tenhamos ouvidos atentos e mente aberta para ouvirmos a resposta de Deus e, a partir dela, conduzirmos a nossa vida de cristãos dispostos à conversão. Converter-se é mais que mudar de direção, é, antes, percebermos que sem Deus não somos nada, que Ele é o Senhor da nossa vida e com Ele devemos caminhar. Pensemos nos discípulos de Emaús que se frustraram após a morte de Jesus e, cabisbaixos, perderam a direção. Jesus, ao caminhar com eles, lhes abriu os olhos do coração e eles O reconheceram no partir do Pão. A conversão deve acontecer no caminhar do dia a dia, olhando para todos e para nós mesmos. O período quaresmal deve servir como ponto de partida, como início de uma nova forma de viver em comunidade, em família e conosco mesmo; a própria Liturgia desse tempo nos leva a repensarmos como e para que estamos vivendo, o que falta para nos aproximarmos de Cristo e como fazer esse retorno aos braços do Salvador. Jesus passou quarenta dias em jejum e oração. Isso nos ensina que precisamos também de um tempo de deserto interior, de reflexão, oração, penitência e jejum. A oração move o coração para Deus. O Jejum e a penitência nos revelam o caminhar para o Reino de Deus, que é de justiça e paz para todos. A conversão pessoal nos encaminha para anunciar a Boa Nova, numa crescente unidade que se realiza pela ação do Espírito Santo. Nossa raiz está em Deus, em seu amor misericordioso, revelado em Cristo Jesus. Deus é a fonte de toda benção, derramada sobre nós, por Cristo Jesus. Vivamos a Quaresma com esperança e fé, porém, também a vivamos de forma a chegarmos na Semana Santa, preparados para, com Cristo, sermos novas criaturas, dispostas a unir, através do diálogo e do perdão, tudo o que foi dividido pelo pecado humano. Pequenos gestos de amor, quando unidos, se transformam em grandes conquistas.
+Dom Carlos José
Bispo de Apucarana