Em Cristo, com Cristo e por Cristo, todos os muros que oprimiam o homem foram derrubados, Nele e por Ele, a unidade foi restabelecida. E isso, a um preço muito alto: o Sangue Divino libertou a humanidade quando, do alto do Madeiro, penetrou esta terra. Compreendamos que Cristo não morreu apenas por alguns, Ele entregou sua vida no alto da Cruz para salvar toda a humanidade, sem exceção. Em Jesus, não há raças, nações, condição social ou diferenças, Nele somos todos iguais diante de Deus, amados da mesma forma e com a mesma intensidade. Neste tempo quaresmal se faz prioridade que respondamos ao chamado à unidade universal feita por Jesus: “Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós, e o mundo creia que Tu me enviaste. Pai, quero que onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo”. (Jo17, 21 e 24). Cristo é a nossa paz, Dele vem a nossa paz, isso significa que quando vivemos em Cristo, encontramos a verdadeira paz que reúne em só Corpo todas as pessoas, mesmo os diferentes de nós. O Papa Francisco nos remete ao entendimento desse grande mistério da unidade em Cristo, em sua Encíclica “Fratelli Tutti – Todos irmãos”. Ao ser questionado sobre qual era o maior mandamento da lei de Deus, Jesus respondeu: Amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. (Deut.6,5). E o segundo, semelhante a este e´: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt22, 37-39). Assim como o amor ao próximo é condição primordial para a construção da unidade e da paz, o diálogo aberto e sincero também o é. A fraternidade, em seu processo de construção, não pode ser dissociada do perdão, da aceitação e do acolhimento, tão pouco se faz com julgamentos ou dedos apontados. Nesse contexto de buscar a real fraternidade, segundo os valores de Cristo, deve-se buscar a unidade do trabalho em conjunto com diferentes pensamentos que culmine para o bem comum de toda a sociedade, através do diálogo sincero, respeitoso e aberto entre todas as partes envolvidas. O Santo Padre enfatiza em “Fratelli Tutti” que há um direito humano fundamental que não deve ser esquecido no percurso da construção da paz e da fraternidade: a liberdade religiosa dos crentes de todas as religiões. Lembremos: dialogar significa falar e ouvir, trocar ideias e opiniões, sem imposições, mas com argumentos sólidos e verdadeiramente cristãos, para que se chegue a um consenso do que é melhor para todos. Quando apenas um lado se impõe, o fracasso já se estabeleceu. A humanidade progride com uma rapidez incrível em tantos aspectos, porém, quando se fala em unidade fraterna e paz, há uma regressão que separa e desune cada vez mais os filhos de Deus. Há uma necessidade premente de sairmos do conforto do nosso círculo de convivência, que por vezes nos torna acomodados e indiferentes à dor e à necessidade do próximo, e irmos além dos nossos muros, ao encontro do outro e agir em favor dele, com caridade e amor gratuito, pois é isso que Jesus espera de nós. Que nossa Quaresma nos leve a sermos artífices da paz, construtores de pontes de unidade e conversão social. Amar mais, julgar menos, orar em favor de todos e promover a unidade em Cristo é um caminho que precisamos começar a trilhar, em nossa família, ao nosso redor, em nossas paróquias e diaconias. Que a Senhora de Lourdes, que fez brotar águas puras na aridez da rocha, permita brotar em nosso coração a água do amor e da caridade fraterna. Amém.
Dom Carlos José
Bispo Diocesano