Palavra do Bispo

“FRATERNIDADE E DIÁLOGO: SIMÃO CIRENEU!”

24 Mar 2021

A prática do amor ao próximo, da caridade e das obras de misericórdia devem ser vividas cotidianamente, como um hábito que vai além do tempo quaresmal e extrapolem nosso caminhar terreno. Não há tempo único para fazer o bem, devemos fazê-lo a cada oportunidade que se apresenta diante de nós. A prática da caridade é uma das formas mais belas de se evangelizar, pois seus frutos são a unidade e a paz. Nos diz o Papa Francisco “O ser humano se faz de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar sua plenitude a não ser por um sincero dom de si mesmo aos outros. Só se conhece a própria verdade no encontro com os outros. Não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo, vivendo como ilhas: nessas atitudes, prevalece a morte” (FT). Sem a prática da caridade, infundida por Deus em nós, as virtudes serão apenas aparência. Caridade e amor são os caminhos para o cumprimento efetivo dos Mandatos de Deus. No Sermão das Bem-Aventuranças Jesus profere o que é chamado de regra de ouro para o cristão: “O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6,310). O encontro com Cristo deve acontecer na prática, no enxergar a face de Jesus no rosto do irmão necessitado. E há inúmeras necessidades, que vão além dos bens materiais e da escassez do básico: muitos são os necessitados de carinho, afeto, de um ouvido disponível, de um sorriso! Quantos irmãos carregam cruzes pesadas demais e não tem como dividi-las, e, desanimando, ficam à beira do caminho!  Algumas situações, muitas vezes nos pegam de surpresa, e nossa decisão tem que ser imediata, para que não se perca uma vida sob o peso do fardo, e, somos obrigados a socorrer no mesmo instante. Esses encontros inesperados sempre causam mudanças interiores. Foi assim, no cotidiano de Simão Cirineu, quando, no meio da rua, teve um encontro inesperado com o próprio Cristo, que, na Via Dolorosa, carregava a própria Cruz às costas. “Passava por ali certo homem de Cirene, chamado Simão, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, e obrigaram-no a que lhe levasse a cruz” (Mc 15,21). Pouco se sabe sobre Simão, o Cirineu, a Palavra afirma que ele vinha do campo, e, pego de surpresa, viu-se obrigado a socorrer Jesus, que já não tinha mais forças. Esse encontro do Cirineu com Cristo flagelado representa para nós hoje os tantos encontros que temos pelo caminho que por vezes nos fazem mudar de direção, traçando um novo percurso, que gera em nós mudanças no rumo de nossa vida. Certamente o Cirineu não imaginava que sua vida seria transformada a partir da cruz de Jesus. Podemos imaginar o olhar amoroso de Cristo para o Cirineu, reconhecendo naquele homem um gesto de caridade, amor e misericórdia. Ah, se o Cirineu até então não sabia de Jesus, a partir dali sua vida se transformou, pois, impossível um coração caridoso não perceber a presença de Deus quando a caridade é exercida. Podemos e devemos olhar para Simão e aprender com seu gesto. Toda pessoa tem sua cruz para carregar e ninguém consegue avaliar qual o peso desse fardo. Somos propensos a pensar que a nossa cruz sempre é mais pesada, pois o orgulho nos diz que somos exclusivos sofredores sob o jugo da cruz. Se faz urgente voltarmos nosso olhar e nosso coração para além de nossas dores e, com compaixão, prestarmos auxílio àqueles que, consumidos pelo desespero, pelas dores e pela incapacidade de se levantaram do chão, esperam um “Cirineu” que se compadeça e aja como o Bom Samaritano. Sempre que, mesmo sendo obrigados a prestar auxílio ao próximo, o fazemos, estamos agindo como Cristo nos disse:  “O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6,310). Sejamos mais Cirineus do que Pilatos, a humanidade precisa de mais mãos e ombros dispostos a ajudar, do que de palavras para criticar. “A estatura espiritual de uma vida humana é medida pelo amor, que constitui o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana” (Papa Francisco, Fratelli Tutti).
A humanidade grita, de várias formas, sobre a urgência da unidade fraterna, do diálogo e do compromisso de uns para com os outros. Convertamo-nos, eis o tempo favorável.

Dom Carlos José
Bispo da Diocese de Apucarana