Vivemos há poucos dias a celebração da Páscoa e o Domingo da Misericórdia. Do Coração aberto de Jesus na Cruz brotou para a humanidade a Misericórdia Divina, como fonte de bênçãos que se faz presente em todo gesto de carinho, ajuda e compaixão que praticamos em relação à necessidade do outro. Misericórdia e solidariedade são gestos que se correspondem e andam juntos, pois, quem as oferece, embora viva uma situação diferente, partilha da mesma humanidade de quem as recebe. A solidariedade é uma virtude moral que as pessoas e diminui as diferenças, derruba barreiras e transforma situações pessoais e sociais. Quando estendemos a mão, a dor do outro se torna mais leve e o fardo mais suave. As necessidades atuais são urgentes, gritantes e bastante visíveis, pois a pandemia deixa escancarada as mais variadas formas de pobreza e carências em que vive o povo de Deus. “Sede misericordiosos como vosso Pai é Misericordioso” (Lc 6,36), disse Jesus aos seus e o diz agora, para cada um de nós. Viver a prática da misericórdia e da solidariedade neste cenário pandêmico se torna urgente e necessário e, quando feito com total desprendimento de si mesmo, auxilia na cura interior nossa e do outro. A solidariedade remete, por primeiro, à ajuda material, seja diretamente ou por meio de associações e movimentos engajados nessa prática, e isso é muito necessário nesses dias em que tantos são os desempregados, os esquecidos e os colocados à margem da sociedade que agora, no isolamento social, quase se tornaram invisíveis, porém, sabemos que existem e precisam realmente de ajuda urgente e constante. Repartir o que se tem com aqueles que nada ou pouco possuem é um gesto de compaixão, misericórdia e solidariedade. Porém, a pandemia gerou outros tipos de necessidades e carências, e apenas perceberemos isso se mudarmos a direção do nosso olhar. Lembremos que Cristo Ressuscitado, ao aparecer aos seus discípulos no Lago de Tiberíades, orientou-os a lançarem as redes do outro lado para que encontrassem pesca farta (Jo 21, 1-7), já que nada haviam conseguido até então. Esse ‘nada conseguir’ tem um quê de desânimo e apatia, como acontece conosco agora nesta pandemia. Isolados e temerosos, nos prendemos numa mesma direção e deixamos de olhar ao redor. Cristo nos chama a olhar para o outro, a direcionar a nossa atenção aos solitários, aos enlutados, aos depressivos, aos assustados e desanimados, àqueles que se encontram em situações de solidão extrema. Inúmeros são os que passam fome de afeto, de encorajamento, de uma palavra de ânimo e esperança. Outros sentem a necessidade de serem ouvidos, entendidos, sem pré-conceitos ou julgamentos, apenas desejam falar e extravasar seus sentimentos, medos e expectativas. Um ouvido atento, uma palavra de ânimo salva vidas, levanta os que se encontram deprimidos e desanimados. O Papa Francisco sempre nos exorta a enxergarmos no outro a face de Cristo, e a fazer para o outro o que gostaríamos que fosse feito para nós, pois somos filhos de um mesmo Pai, somos todos irmãos. Há guerras interiores na vida dos outros que não conhecemos, e há também uma necessidade premente de se sentir lembrado, querido e amado em tempos tão solitários. Colocar-se à disposição é ser Cirineu, pois não há quem, em algum momento de sua vida, precisou ou precisará de alguém. Por tudo isso, somos chamados a mudar o foco, olhar menos para nós mesmos e enxergar a necessidade do outro, dentro ou fora da família, na comunidade, na Paróquia, enfim, onde vivemos e somos, sempre com o cuidado de não invadir espaços, sem querer ser dono do outro, mas com amor fraterno. Para nosso próprio bem e saúde espiritual e mental, é preciso que nos tornemos necessários para o outro. Tornar-se necessário na vida do outro, para que as dores e carências sejam aliviadas, também é ser solidário e misericordioso como o Pai. Práticas como a solidariedade e a misericórdia tem o poder de despertar o gosto imperecível por fazer e contribuir com o bem comum. Sempre é tempo de aprender, pois somos eternos aprendizes na vinha do Senhor e chamados a sermos sal e luz em nossa caminhada. Alimentemo-nos constantemente da Oração, Palavra e Eucaristia para que nossos gestos sejam concretos e desinteressados, como é gratuito o amor de Deus por nós.
Que Nossa Senhora de Lourdes nos ajude. Amém!
Dom Carlos José
Bispo de Apucarana
Assessoria de Comunicação Episcopal
#daonline