COMO POSSO ENTENDER SE NINGUÉM ME ENSINA? (At 8,31)

Ninguém conhece Jesus se Este não lhe for apresentado, assim como ninguém O ama, se Ele não lhe for anunciado! Hoje, mais do que nunca, há uma necessidade premente de se anunciar Jesus, de apresentá-Lo às pessoas que estão sedentas de uma Luz que, clareando seus caminhos, as reconstrua em suas tantas necessidades. Num mundo onde a Pandemia revelou o pior e o melhor de cada ser humano, suas revoltas e seus anseios, suas esperanças e necessidades, percebemos que, muitas vezes, falta o essencial onde prolifera um vasto conhecimento tecnológico e cultural. Graças a Deus, formaram-se especialistas em saúde, bem-estar, vacinas e métodos diversos, porém, por outro lado, criou-se um distanciamento, não apenas físico (necessário para salvaguardar a saúde e a vida do próximo), mas um distanciar-se da comunidade, do afeto mútuo e do crescimento em comum na Ação Evangelizadora, num isolamento onde se absorve todo tipo de informação, mas que se fecha ao dever missionário, mandato perpetrado por Cristo, o Senhor da Vida e da história. Há exceções, graças a Deus e à Ação do Espirito Santo, mas há muito a ser feito. Nesse contexto, a missão do leigo é essencial para que Jesus e seu Amor salvífico seja plenamente conhecido e difundido em meio a nós. Podemos ser leigos em vários assuntos, em muitas profissões, mas, na Igreja de Jesus Cristo, somos capacitados pelo Espírito Santo, que recebemos no Batismo, com os dons necessários para sermos Sal e Luz na vida do nosso irmão. Todo leigo batizado é portador da Graça que lhe confere a participação no sacerdócio comum, fundado no único Sacerdócio de Cristo. Esse sacerdócio batismal concede direitos na Igreja ao cristão leigo: participar dos sacramentos, conhecer a fé, cooperar na edificação do povo de Deus e educar os filhos na fé cristã. Aos direitos, acrescentam-se deveres: colaborar com os Pastores Ordenados na ação evangelizadora, difundir e dar testemunho do Evangelho em todos os ambientes e outros deveres mais. Ou seja, do que recebemos gratuitamente de Deus, temos a obrigação de dividir com o próximo para que ele também tome posse da Graça.  Nesse sentido do Evangelho repartido, o amor dividido não diminui, antes, se multiplica, dá frutos abundantes a quem reparte e a quem recebe. Quem chama é Deus, que saibamos responder como o jovem Samuel, depois de instruído por Elias:  “Fala Senhor que teu servo escuta” (1 Sam 3,10). Também hoje é preciso ouvir a Voz do Senhor que nos chama à missão, efetiva e constante.
A área específica do leigo é o apostolado no mundo secular, inserido nas realidades temporais, ou seja, o mundo é o vasto campo de missão de todo cristão. O leigo complementa a ação do sacerdote, não o substitui nem ministra sacramentos, no entanto, prepara os irmãos para isso. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos ensina que todo leigo e, em virtude dos dons conferidos pelos méritos de Cristo, é testemunha e instrumento de evangelização onde habita. Portanto, todo leigo deve repetir como São Paulo em 1Cor 9,16: “Ai de mim se eu não evangelizar”. Como na passagem bíblica do Eunuco que lia a Palavra constantemente, mas não a entendia, até que Ela lhe fosse explicada, assim estão muitos que hoje participam da fé católica, mas não tiveram um encontro pessoal com a Pessoa de Jesus Cristo, porque não lhes foi apresentado o Primeiro Anúncio. A eficácia do trabalho apostólico do fiel leigo está intimamente associada à sua base espiritual, à sua vida de oração pessoal e comunitária, à frequência na recepção dos sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Penitência, e à sua reta formação doutrinária, pois quem tem um encontro com a Pessoa de Jesus, por Ele se apaixona e sem Ele não vive. O leigo que não reza, não se confessa, não comunga, não lê e não medita a Palavra de Deus, não persevera na missão e dela se afasta. Nesses tempos pandêmicos, mais que nunca a Igreja necessita de leigos comprometidos com os valores de Cristo, pois vivemos uma escala de valores pagãos, onde Deus vai sendo eliminado da sociedade, sobrando apenas a cultura do relativismo onde impera o egoísmo e o desamor. Para quem deseja ardentemente acender o fogo da esperança, do amor e da paz no coração dos irmãos, não há isolamento social que impeça que isso aconteça. Temos em mãos instrumentos tecnológicos preciosos que, em questão de segundos, levam a Palavra de Deus e seu amor a quem não sentiu desabrochar em si o verdadeiro Amor. Enquanto não podemos anunciar pessoalmente, usemos os meios que temos em mãos, pois quem anuncia Jesus cresce na fé e na intimidade com Ele mesmo. Espelhemo-nos na Virgem Maria, mulher jovem, forte e leiga, a mais perfeita discípula do Senhor. 

Dom Carlos José
Bispo da Diocese de Apucarana