Palavra do Bispo

O Tempo da Criação

09 Set 2021

“Pergunta, pois, aos animais e eles te ensinarão; às aves do céu e elas te instruirão. Fala aos répteis da terra e eles te responderão, e aos peixes do mar, e eles te darão lições. Entre todos esses seres, quem não sabe que a mão de Deus fez tudo isso e que Ele tem em mãos a alma de tudo o que vive, e o sopro da vida dos seres humanos? (Jó 12,7-10). 
Teve início em 01 de setembro, dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação, com encerramento em 04 de outubro, celebração de São Francisco de Assis, o “Tempo da Criação”. Nossa diocese deu início oficialmente ao Tempo da Criação em audiência pública, através da Câmara de vereadores de Arapongas. Foi um momento de oração ecumênica. Nesse tempo, todas as denominações cristãs são chamadas a celebrar, com orações e ações efetivas, o Tempo da Criação, num empenho claro e objetivo de cuidar da Casa Comum: nosso planeta, tão devastado por tragédias naturais causadas pelo mau uso humano de suas riquezas. O querido Papa Francisco tem insistido na premente necessidade de uma conversão ecológica, que passa pela conversão do coração, da mente e das atitudes em relação ao meio em que vivemos. Não podemos pensar que estamos imunes às consequências desastrosas da falta de cuidado com o meio ambiente. Uma ferida aberta no planeta atinge toda humanidade, assim como uma má ação num bairro ou numa cidade, afeta todos ao seu redor. A indiferença em relação aos cuidados com a obra do Criador ameaça a Casa Comum, causando sofrimento a   toda espécie de vida, seja humana, vegetal ou animal. Há uma dignidade Divina em toda obra da criação, pois, em Deus temos nossa origem comum, somos todos irmãos e essa verdade é uma dádiva que deveria, por si só, nos impelir a sermos mais responsáveis em relação ao cuidado da vida como um todo, cuidando de tudo o que Deus fez e continua fazendo por nós. Dele recebemos o dom da inteligência que nos permite cuidar, restaurar e inovar em técnicas que proporcionem o necessário progresso, sem com isso destruir ou prejudicar o meio ambiente e nossa Casa Comum. Cuidar do meio ambiente é cuidar de si mesmo. A saúde pessoal está intimamente ligada aos cuidados externos. Fomos criados por Deus para nos relacionarmos intimamente com Ele próprio, com nossos semelhantes e com a natureza de uma forma geral.  Somos administradores da Criação, conforme o desejo do Criador, porém, não somos senhores absolutos das criaturas por Ele criadas. Somos sim, responsáveis por cuidarmos de tudo o que recebemos e, um dia, seremos interpelados por Ele mesmo sobre nossa conduta em relação à criação. Se olharmos para nosso planeta e observarmos atentamente tudo o que recebemos, como foi criado em suas origens, repleto de belezas naturais, com uma terra rica em produzir alimentos e sustento da humanidade, perceberemos nossa imensa responsabilidade em cuidar da criação com zelo e amor, assumindo nossa missão de regenerar o que se encontra desvirtuado em sua essência. Verdadeiramente somos guardiões da obra de Deus e cuidar dessa obra não é uma opção nem um ato secundário dentro da vivência cristã, mas se torna parte essencial de uma existência virtuosa e atuante dos desejos de Deus. Recebemos tudo pronto, tudo foi criado para nós usufruirmos com respeito e cuidado, no intuito de que todas as gerações usufruam dessa graça. No entanto, nenhuma criatura se basta a si mesma, desde o princípio fomos chamados a servirmos uns aos outros, na caridade, no amor fraterno, no cuidado uns dos outros, na solidariedade e esse servir ao próximo gera uma necessária complementariedade com um olhar de verdadeiro amor cristão. Há que se pensar nas próximas gerações, nos irmãos e irmãos que viverão depois nós, no futuro que vamos deixar para eles. Nossa responsabilidade como cristãos é promover ações concretas de mudanças e restauração do meio em que vivemos, revendo nossas atitudes pessoais e suas consequências para o mundo. A conversão ecológica começa no indivíduo, mas não pode parar nele, mas deve, depois de passar pelo encontro pessoal com Cristo que nos reconciliou com o Pai e restaurou todas as coisas Nele mesmo, atingir tudo e todos ao redor. Essa reconciliação oferecida por Cristo, a preço de Sangue, deve estender-se ao cuidado com a criação, a Casa Comum, para que todos possam ter o direito à vida em abundância. Portanto, não apenas cobremos ou esperemos que os outros façam, mas que a nossa oração pelo cuidado da Criação se transforme em ação: “Comece por fazer o que é necessário, depois o que é possível e, de repente, estará a fazer o impossível. “ São Francisco de Assis, Padroeiro da Ecologia.

Dom Carlos José de Oliveira 
Bispo da Diocese de Apucarana