SEMANA DE PREVENÇÃO ÀS DROGAS “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão”. (Gal 5,1) Há em todo ser humano um combate entre ser de Deus e ser do mundo, quando na verdade, o correto é viver no mundo, sendo inteiramente de Deus. Nem sempre entendemos assim e vivemos hora de uma forma, hora de outra. Há também, em cada ser humano, o gravíssimo erro do julgamento das atitudes do outro, de dedos apontados que geram o menosprezo pelas situações vividas, que levam a sequer esboçarmos um mínimo de caridade ou movimento que resgate nosso próximo da situação em que vive e, como é mais fácil, passamos ao largo, fingindo que nada vemos. Todo cristão é responsável pela conversão do outro, pelo chamado à verdadeira vida que gere dignidade e o leve à esperança de dias melhores. Estamos vivendo a semana Nacional de Prevenção às Drogas. Assunto delicado, de difícil abordagem, seja pelos que se empenham no acolhimento e recuperação desses irmãos ou pelos que vivem essa trágica situação, que atinge um número incontável de famílias em todo o mundo. É preciso que tenhamos consciência de que não devemos julgar e sim ajudar a resgatar esses tantos irmãos e irmãs que sofrem e são excluídos da sociedade. Cada pessoa traz em sua história pessoal uma carga de sentimentos e acontecimentos que quem está ao lado ou de fora, não conhece e, portanto, o julgar não procede nem é justo. Fomos criados por Deus como criaturas livres e responsáveis por nossos atos e decisões, porém, pelas razões mais diferentes e impensáveis, muitos não assimilam que essa liberdade pode ser usufruída de forma ‘limpa’, ou seja, baseada na fé e no amor a Deus, como princípio e fim da liberdade individual. Quantos irmãos se escondem através do uso de substâncias tóxicas, sejam elas proibidas ou vendidas legalmente, totalmente escravos dessa dependência, como num processo de fuga que, aparentemente os protegem das dores do dia a dia, do fracasso familiar, da falta de tudo, absolutamente tudo. Desilusões, falta de objetivos, grandes sofrimentos ou perdas pessoais, crises de foro íntimo, enfim, muitas são as causas que servem como gatilho para essa experiência desastrosa. No mais íntimo do ser humano, a voz da razão avisa que, uma vez usando, muito difícil parar. Mas há outra voz, a da autossuficiência e talvez do desespero, que diz: eu me domino e paro quando quiser. Por isso, não julguemos e sim, ajudemos com ações concretas quem grita de uma forma diferente, através da dependência, por ajuda. Estender as mãos sem apontar os dedos em julgamento, é o trabalho primordial dos voluntários nessa missão. O trabalho desenvolvido em nossa Diocese pelo Movimento Cristo te ama (Cristma) é um belo exemplo de doação pessoal, apostolado e evangelização que, ao olhar para o necessitado de ajuda, vislumbra também o seu entorno: sua família e suas necessidades espirituais e pessoais. O objetivo principal é a recuperação, que passa por várias fases: é preciso chegar ao dependente e, com respeito e amor, auxiliá-lo a caminhar para a recuperação, dando-lhe a oportunidade de conhecer e vivenciar o amor fraterno, ao mesmo tempo em que se busca ajudar os familiares a terem serenidade e não desespero diante da situação. Tudo isso embasado na vivência cristã e nos pilares do apoio pessoal, do apostolado e do caminhar para a recuperação. Quem vive ou convive com essa triste realidade de dependência, sabe o quanto é sofrido e desgastante estar à margem da sociedade dita ‘normal’, que exclui ou ignora tal problema. Enfim, todos temos uma dependência de algo, alguns lidam melhor com isso e não se deixam escravizar por ela, outros, no entanto necessitam de amor, atitudes concretas e carinho, para que possam retornar ao convívio de sua comunidade, para que resgatem em si mesmo a dignidade dada por Deus a todos e a cada um de nós. Num mundo tão excludente, onde impera o individualismo que afasta os mais necessitados, gerando um caos nas famílias e comunidades, faz-se urgente um efetivo trabalho evangelizador que devolva o sentido primordial da vida a tantos irmãos e irmãs carentes de amor e afeto desinteressado e verdadeiro, tal qual o amor de Deus por cada um. A Palavra: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”, (1Cor 6,12) também nos exorta a tomarmos consciência de que não é conveniente ao cristão se omitir de seu dever de ir em busca dos que estão distantes e esquecidos. +Dom Carlos José Bispo da Diocese de Apucarana - PR