“A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus”. 1Cor 1,18.
Nesta passagem da sagrada escritura São Paulo nos ajuda a entender que somente pela ótica da fé é possível entender “Deus crucificado”. A lógica de Deus se opõe a do mundo. Enquanto os judeus pedem por sinais e milagres, que de fato assegurem a veracidade da pregação de Jesus; e os gregos vivem em busca da sabedoria do mundo, ou seja, de uma doutrina que seja inteligível e possa ser entendida pela razão humana; aparecem então os cristãos que anunciam o Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e é loucura para os gentios.
Somente pela fé somos capazes de aceitar este paradoxo da ação de Deus. A escolha desta passagem como meu lema de ordenação presbiteral, aconteceu no meu segundo retiro que fiz no seminário, ainda na etapa do propedêutico. Me deparei com esta passagem que de certa maneira me respondia o porquê de um seguimento a Deus, que visto apenas por olhos humanos, parece ser irracional. Porque deixar tudo, casa, família, emprego e amigos, para ingressar num seminário, numa caminhada que durariam nove anos? Porque abandonar as seguranças do mundo para se aventurar no seguimento de um Deus que não é desconhecido, mas que certamente seus caminhos são incompreensíveis, pois se coloca longe da lógica do mundo?
Ao me deparar com esta passagem de São Paulo, descobri que a ação de Deus no mundo não pode ser entendida com as categorias da razão e da sabedoria do mundo. Somente pela fé compreendemos que a cruz é objeto de repressão, mas é ao mesmo tempo objeto de plena redenção. Eis o paradoxo da ação de Deus no meio de nós. Este paradoxo é compreendido apenas pelos olhos da fé. E também somente pela ótica da fé é que compreendemos o deixar o nosso tudo no mundo para seguir Jesus. E na medida em que caminhamos neste seguimento vamos descobrindo que o nosso tudo que deixamos é minúsculo perto do TUDO que recebemos de Deus. Mas só podemos receber o TUDO de Deus se deixarmos o nosso tudo no mundo, e sem olharmos para trás, seguirmos a “loucura do Deus crucificado”.
Escreva seu comentário