XXV PLANO DIOCESANO DA AÇÃO EVANGELIZADORA

01 Mai 2021
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XXV PLANO DIOCESANO DA AÇÃO EVANGELIZADORA

 

DIOCESE DE APUCARANA

 

Igreja da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão 

 

Despertar – Motivar – Essencializar

em Comunhão – em Comunicação 

 

“Consolai, consolai o meu povo...Animai-o...” (Is 40,1)

 

“Hoje podemos pensar a Igreja como um hospital de campanha. Necessita-se de curar feridas...”

(Papa Francisco 06/03/2014)

 

Certo samaritano...o viu, moveu-se de compaixão. Aproximou-se....o conduziu a hospedaria... (Lc 10,33-35)

 

D.A. IGREJAHOSPITAL DE CAMPANHA

 

1. Contemplando nossa história e nossa realidade!

 

A Diocese de Apucarana foi instalada em 1965. De lá para cá, sofremos as grandes transformações ocorridas em nossa sociedade e em nossa Igreja. Enquanto Igreja Particular, fomos forjados no calor do Concílio, o que nos deu algumas características peculiares: somos Igreja Povo de Deus, que busca promover as vocações diaconal e presbiteral; Igreja dos ministérios não-ordenados e do protagonismo dos leigos; Igreja da comunicação que promove comunhão e participação.

Enquanto Povo de Deus que caminha inserido numa história, somos testemunhas das transformações sociais ocorridas em nosso país: nossa população deixou de ser rural e católica e tornou-se urbana e plural. Uma pesquisa do Datafolha, realizada no início de 2020, apresenta dados acerca da população brasileira que deveriam nos levar à reflexão: 50% dos entrevistados se disseram católicos, 31% evangélicos, 10% sem religião e os demais, cerca de 9%, praticam outras religiões.

Atualmente, vivemos uma grave crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Não falamos apenas de uma crise sanitária, mas também de uma crise política, econômica e social, que gera um estado de angústia, de medo, de dúvidas e incertezas, de tristeza e desânimo em nosso povo, especialmente naqueles mais vulneráveis: os pobres e os do assim chamado "grupo de risco".

Inserida neste momento dramático da história, a Igreja, e no nosso caso, a Diocese de Apucarana, é chamada a ser sinal de vida e esperança. Nossa missão de anunciar Jesus Cristo como Salvador e Senhor da humanidade e da história, adquire caráter de urgência quando nos vemos envolvidos numa pandemia que ameaça a vida de tantos.

 

1.1 Um olhar de esperança 

 

Brotam da nossa atual situação social e eclesial duas grandes urgências: 1) repensar nossas estruturas, tornando-as mais ágeis e eficazes no que se refere ao processo de evangelização dos homens e mulheres do nosso tempo, tão feridos pelas crises já apontadas; 2) refletir sobre nossa realidade e propor caminhos de evangelização que respondam adequadamente ao mandato missionário de Cristo Jesus (cf. Mt28,19-20) e às necessidades de nosso povo.

Três verbos e duas expressões, escolhidos por nosso Bispo Diocesano, Dom Carlos José, iluminarão nossa ação evangelizadora nos próximos anos. Pretendem oferecer o sentido, nortear, orientar nossa caminhada de discípulos missionários. São eles:

Despertar – É tempo de despertar nosso coração e o coração dos irmãos e irmãs. Despertar é deixar de estar dormindo; sair do estado de sono, de dormência; acordar, deixar a inatividade, levantar-se da prostração; sair da depressão;manifestar-se; tornar-se presente. O mundo sofre, está ferido pela pandemia. É hora preciosa de despertarmos a nós e ao nosso povo:  Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti” (Ef 5,14).

Tendo diante dos olhos os efeitos nefastos da pandemia que se abateu sobre nós, somos convidados a pensar nossa ação evangelizadora em termos de estímulo, de busca de novo ardor, de novo ânimo na vivência da fé. “O tempo atual exige de todos nós a renovação de forças missionárias para bem cumprir a tarefa de anunciar a Palavra de Deus e, assim, promover a paz, superar a violência, construir pontes em lugar de muros, oferecer a misericórdia de Cristo Jesus como remédio para a vingança e reacender a luz da esperança para vencer o desânimo e as indiferenças. Essa é a nossa vocação, pois somos discípulos missionários a anunciar o Reino de Deus até a plenitude” (DGAE, Apresentação, p. 7). O texto acima, das Diretrizes Gerais, tornou-se, graças à Covid-19, mais intenso e mais carregado do sentido de urgência. Por conta da pandemia, muitas pessoas se afastaram, ou tiveram de se afastar, de nossas comunidades. Torna-se urgente despertar nosso povo para a fé e para a vivência do Evangelho, em comunidade.Precisamos reunir nossas forças e ir ao encontro dos homens e mulheres, anunciando-lhes a grandeza da misericórdia e do poder salvador de Cristo Jesus, sentido de nossa vida.

 

Motivar – Somos chamados a motivar, ou seja, cativar, atrair, conquistar, envolver, seduzir: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7). Deixar-se envolver pela sedução do Cristo, nosso primeiro amor, e seduzir outros ao amor a Cristo.

A atitude de despertar alguém para a fé deve vir acompanhada da necessária motivação para a vivência da mesma fé. Motivação é palavra cara aos homens e mulheres de hoje. Significa, basicamente, despertar o interesse, meu ou de outra pessoa, por algo, por alguma coisa. Motivar é dar os motivos, as razões, de uma determinada ação. Motivados, damos o melhor de nós a fim de alcançar nossos objetivos. Sem motivação não conseguimos peregrinar na fé, pois a mesma se torna sem sentido. O Documento de Aparecida (n.12), citando o então cardeal J. Ratzinger (Papa Bento XVI), nos recorda que, “a todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva.” Recorda-nos, ainda, Aparecida (n.18) que, “conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher.”

 

Essencializar – Buscar o essencial e não perder tempo com o acidental. “Marta, Marta te preocupas com tantas coisas: uma só é essencial” (Lc 10,41). Essencializar é voltar continuamente ao único necessário: Cristo Jesus na Palavra, nos Sacramentos e na Caridade. Ensina-nos o Papa Francisco: “Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído». Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada” (EG, 3).

A Pandemia nos fez ver que não precisamos de muito, que mesmo mais despojados podemos nos concentrar no essencial. É preciso rever nossas estruturas paroquiais e diocesanas. O menos, muitas vezes é mais. “Cuidar demais das estruturas e da prática levou-nos a muitas formas de ativismo estéril. A primazia do fazer ofuscou o ser cristão. Há muita energia desperdiçada em manter estruturas que não respondem mais às inquietações atuais. Sem negar o valor do que foi realizado, é preciso agir para responder às inquietações novas. O Documento de Aparecida propõe “abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé”.  Somos chamados a anunciar Jesus Cristo em linguagem acessível e atual. Porém, o fazemos mediante abstrações e fórmulas, sem comunicar experiências de fé. Presos a conceitos de difícil compreensão, muitas vezes, não somos capazes de estabelecer relações entre a vida dos que creem e o Mistério de Deus” (Doc. 100).

 

Em comunhão – Um Plano Diocesano da Ação Evangelizadora (PLADAE) visa unificar a caminhada pastoral de uma Igreja Particular, tornando-a mais eficaz. As propostas elencadas pretendem ser respostas aos desafios suscitados pelo tempo presente. O PLADAE pretende colocar atividades diversas numa mesma perspectiva pastoral e evangelizadora, respeitando o jeito de ser das diversas comunidades. A união de forças, a organização dos trabalhos, as sugestões de ações pastorais, têm como grande objetivo anunciar Jesus Cristo, torná-lo conhecido e amado pelas pessoas que residem num determinado território. Da comunhão da Santíssima Trindade, deriva a comunhão da Igreja, a qual é, “em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). Nosso caminhar juntos (sinodalidade) já é uma forma, talvez a mais sublime, a mais eficaz, de evangelização. “Ser cristão implica, entre outros aspectos, viver em comunidade (At 4,32-33), estabelecendo vínculos muitas vezes mais fortes do que os laços de sangue (Lc 8,19-21)” (DGAE, Apresentação, p. 8). Ninguém pense o PLADAE como uma imposição externa ou um processo de uniformização de nossas comunidades paroquiais ou ainda como um elenco de tarefas e coisas que “devem” ser feitas num determinado período. Ao contrário, no nosso caso, PLADAE significa organização, seriedade no compromisso cristão de testemunhar Jesus Cristo, significa ainda, instrumento, auxílio, colaboração no processo de identificação dos fins e dos meios da evangelização. Uma pastoral orgânica, de conjunto, respeitosa da diversidade dos carismas e ministérios, dialogal e servidora tende a ser a grande resposta cristã a uma sociedade marcadamente egoísta, subjetivista, intolerante e violenta. “A vivência cotidiana do amor fraterno em comunidade constitui uma forma privilegiada de testemunho cristão” (DGAE, 24). 

Em comunicação – “A missão parte do encontro com Cristo e a Ele conduz. Por isso, não pode ser compreendida como uma propaganda, um negócio, um projeto empresarial ou uma organização humanitária (EG, 279). Ela é partilha de uma alegria, indicação de um horizonte estupendo, não podendo se realizar por proselitismo, mas somente por atração” (DGAE, 23). “Não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas, é urgente ir em todas as direções para proclamar que o amor é mais forte” (DAp, 548). A pandemia, ao mesmo tempo que impediu nossos encontros e reuniões, nos estimulou a irmos todos para um universo até então pouco explorado por alguns: a internet. Enquanto as demais pastorais foram obrigadas a diminuir drasticamente suas atividades, a Pastoral da Comunicação (PASCOM) foi implantada, apoiada e organizada em quase todas as paróquias. A comunicação é uma das características do Bem e do Evangelho. “Com entusiasmo e esperança, [a Igreja] anuncia e testemunha que a plenitude de vida, experimentada na comunhão fraterna, é dádiva oferecida por Deus a todas as pessoas. ‘Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?’” (EG, 8; DGAE, 19). 

 

2. Iluminados pela Fé

 

Nas últimas décadas muito tem se falado em nova evangelização, revisão de estruturas eclesiais, desburocratização e adaptação de nossas comunidades aos novos tempos. No que tange às Paróquias e, de certo modo à ação evangelizadora, sem a pretensão de sermos exaustivos, podemos destacar algumas indicações apresentadas pela Conferência de Aparecida, pelo Papa Francisco e pela CNBB. Vejamos.

 

a. Documento de Aparecida (2007)

 

170. Entre as comunidades eclesiais, nas quais vivem e se formam os discípulos e missionários de Jesus Cristo, sobressaem as paróquias. São células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial. São chamadas a ser casas e escolas de comunhão. Um dos maiores desejos que se têm expressado nas Igrejas da América Latina e do Caribe, motivando a preparação da V Conferência Geral, é o de uma valente ação renovadora das paróquias, a fim de que sejam de verdade “espaços da iniciação cristã, da educação e celebração da fé, abertas à diversidade de carismas, serviços e ministérios, organizadas de modo comunitário e responsável, integradoras de movimentos de apostolado já existentes, atentas à diversidade cultural de seus habitantes, abertas aos projetos pastorais e supra-paroquiais e às realidades circundantes”.

171. Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização dos homens e mulheres em cada ambiente. O Espírito Santo, que atua em Jesus Cristo, é também enviado a todos enquanto membros da comunidade, porque sua ação não se limita ao âmbito individual. A tarefa missionária se abre sempre às comunidades, assim como ocorreu em Pentecostes (cf. At 2,1-13). 

172. A renovação das paróquias no início do terceiro milênio exige a reformulação de suas estruturas, para que seja uma rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão. A partir da paróquia, é necessário anunciar o que Jesus Cristo “fez e ensinou” (At 1,1) enquanto esteve entre nós. Sua pessoa e sua obra são a boa nova de salvação anunciada pelos ministros e testemunhas da Palavra que o Espírito desperta e inspira. A palavra acolhida é salvífica e reveladora do mistério de Deus e de sua vontade. Toda paróquia é chamada a ser o espaço onde se recebe e se acolhe a Palavra, onde se celebra e se expressa na adoração do Corpo de Cristo, e assim é a fonte dinâmica do discipulado missionário. Sua própria renovação exige que se deixe iluminar de novo e sempre pela Palavra viva e eficaz. 

173. A V Conferência Geral é uma oportunidade para que todas as nossas paróquias se tornem missionárias. O número de católicos que chegam à nossa celebração dominical é limitado; é imenso o número dos distanciados, assim como o número daqueles que não conhecem a Cristo. A renovação missionária das paróquias se impõe, tanto na evangelização das grandes cidades como do mundo rural de nosso Continente, que está exigindo de nós imaginação e criatividade para chegar às multidões que desejam o Evangelho de Jesus Cristo. Particularmente no mundo urbano, é urgente a criação de novas estruturas pastorais, visto que muitas delas nasceram em outras épocas para responder às necessidades do âmbito rural. 

174. Os melhores esforços das paróquias neste início do terceiro milênio devem estar na convocação e na formação de leigos missionários. Só através da multiplicação deles poderemos chegar a responder às exigências missionárias do momento atual. Também é importante recordar que o campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim como as esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a Igreja se faz presente somente por eles. 

175. Seguindo o exemplo da primeira comunidade cristã (cf At 2,46-47), a comunidade paroquial se reúne para partir o pão da Palavra e da Eucaristia e perseverar na catequese, na vida sacramental e na prática da caridade. 

 

b. Evangelii Gaudium (2013)

 

27. Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, exigida pela conversão pastoral, só se pode entender neste sentido: fazer que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. 

28. A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade. Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser «a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas». Isto supõe que esteja realmente em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos. A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração. Através de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário. Temos, porém, de reconhecer que o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-as ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e orientando-as completamente para a missão.

 

c. DGAE 2019-2023

 

4. Especialmente diante da cultura urbana, cada vez mais abrangente, as DGAE 2019-2023 estão estruturadas a partir da Comunidade Eclesial Missionária, apresentada com a imagem da “casa”, “construção de Deus” (1Cor 3,9). Casa, entendida como “lar” para os seus habitantes, acentua as perspectivas pessoal, comunitária e social da evangelização, inserindo, no espírito da Laudato Si, a perspectiva ambiental. 

6. Casa é aqui a imagem de maior proximidade às pessoas, o lugar onde vivem, mesmo àquelas que só têm a rua como casa. Ela indica a proximidade relacional entre as pessoas que ali convivem. Indica igualmente a necessidade da Igreja se fazer cada vez mais presente nos locais onde as pessoas estão, seja onde for.

7. Essa casa é a comunidade eclesial missionária. Suas portas estão continuamente abertas para o duplo movimento permanente: entrar e sair. São portas que acolhem os que chegam para partilhar suas alegrias e sanar suas dores. Estão igualmente abertas para sair em missão, anunciando Jesus Cristo e o seu Reino, indo ao encontro do outro, especialmente dos pobres e sofredores. Em tudo isso, o rosto de misericórdia do Cristo Senhor é manifestado (MV, 1). Assim, missão e comunidade são como dois lados da mesma moeda. A comunidade eclesial autêntica é, necessariamente, missionária e toda missão se alicerça na vida de comunidade e tende a gerar novas comunidades.

8. A comunidade eclesial missionária é sustentada por quatro pilares: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária. Em cada um deles, as urgências anteriores são reagrupadas e permanecem mostrando sua atualidade: 

Palavra – iniciação à vida cristã e animação bíblica;

Pão – liturgia e espiritualidade;

Caridade – serviço à vida plena;

Ação missionária – estado permanente de missão.

33. No momento atual, pelo qual passam o mundo e o Brasil, a conversão pastoral se apresenta como desafio irrenunciável. Esta conversão implica a formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias, nos mais variados ambientes, que sejam casas da Palavra, do Pão, da Caridade e abertas à Ação Missionária. Essas comunidades podem oferecer, nesse contexto, meios adequados para o crescimento na fé, para o fortalecimento da comunhão fraterna, para o engajamento de seus integrantes na missão e para a renovação da sociedade. 

132. Nossas comunidades precisam ser oásis de misericórdia (MV 12) no deserto da história, casas de oração profunda, de mergulho no sagrado mistério revelado pelo Amor do Pai. Devem deixar de lado toda burocratização que afasta, toda aparência de empresa que presta serviços religiosos, para caminhar apressadamente no compromisso de se transformarem em lugar de encontro com Deus. 

 

3. Discernindo...sonhando e fazendo opções! 

 

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil   (Doc. 109 da CNBB) nos apresentaram a Igreja como uma CASA, com 4 pilares e a porta sempre aberta para acolher e sair em missão. 

Nós, como Diocese de Apucarana queremos ser exatamente essa casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão. Mas a pandemia nos lembrou uma velha casa, quase tenda, necessária em tempos de graves crises: Hospital de Campanha. Já em 2014 o Papa Francisco apresentava a Igreja como HOSPITAL DE CAMPANHA, HOSPEDARIA, aonde se levam os feridos.

Várias são as imagens da Igreja (LG 6). Hoje, nós como Diocese de Apucarana, queremos assumir a Imagem da Igreja como Hospital de Campanha, como nos pediu o Papa Francisco e mais ainda como a HOSPEDARIA (é a mesma imagem) apresentada na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Os Santos Padres, em uma leitura alegórica da passagem, ensinam que, na verdade o Bom Samaritano é Jesus, que desceu dos céus (Jerusalém) rumo a Jericó (o mundo) para socorrer o ser humano, roubado na sua dignidade pelo diabo. O Bom Samaritano-Jesus levou o pobre ser humano ferido à hospedaria e falou com o hospedeiro. A Hospedaria é a Igreja, para a qual Jesus leva os feridos, para serem cuidados. O hospedeiro é aquele que já está na Igreja e se torna o cuidador do ferido. A ele o Bom Samaritano-Jesus, dá dois denários e promete pagar tudo o mais, na volta. Jesus voltará! Esta imagem da Igreja HOSPITAL é preciosa para nossos dias. A nós, os hospedeiros de hoje, Jesus dá dois denários: A PALAVRA e o PÃO.  Vamos deixar que Jesus cure nossas feridas, agora mais abertas e sangradas, pela pandemia e curemos as feridas de nossos irmãos e irmãs. A Igreja é esse HOSPITAL DE CAMPANHA, aonde com o vinho e o óleo da misericórdia divina, queremos ser cuidados e cuidar. 

 

 

4. Dando passos... Igreja-Hospital de Campanha

 

À luz da inspiradora forma de compreensão da comunidade cristã proposta pela CNBB (Igreja compreendida como casa sempre aberta a todos e sustentada por quatro pilares: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária) e pelo Papa Francisco (Igreja retratada como hospital de campanha), podemos apresentar algumas sugestões às nossas paróquias, pastorais e movimentos. Tais sugestões pretendem nortear nossa ação evangelizadora. Não são, contudo, a totalidade dessa ação evangelizadora, nem pretendem cercear a liberdade e limitar a criatividade dos pastores e das comunidades paroquiais, das pastorais e dos movimentos que compõem nossa Diocese. São, outrossim, um convite, um caminho... Algumas sugestões são muito simples, outras mais complexas, porém, não nos iludamos: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia.” (EG, 33). E mais: “Uma pastoral em chave missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir. Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa.” (EG, 35).

 

I) Pilar da Palavra

 

“Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos... (At 2,42)

 

a. Priorizar e implantar a catequese de iniciação à vida cristã (cf. DGAE, 89); 

b. Valorizar e promover os atendimentos personalizados (confissão – direção espiritual). Os padres, dediquem-se às confissões e bênçãos e os(as) leigos(as) preparados(as), ao atendimento espiritual;

c. Assumir a prática da Leitura Orante da Palavra (DGAE, 91) e a animação bíblica da vida e da pastoral;

d. Nossas homilias sejam partilhas da Palavra de Deus, sóbrias, bem preparadas e breves (EG,135-144);

e. A piedade popular seja incentivada, pois como nos recordava São Paulo VI, a piedade popular “traduz em si certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar” (EM, 38; EG, 123). Segundo o Documento de Aparecida, trata-se de uma verdadeira “espiritualidade encarnada na cultura dos simples” (n. 262; EG, 124; cf. DGAE, 100);

f. Instituir o Dia Mensal da PadroeiraDiocesana, Nossa Senhora de Lourdes; 

gRetomar os grupos de vivência, proporcionando formação aos animadores e incentivando o surgimento de novos grupos, tanto territoriais quanto ambientais;

h. Valorizar as diaconias e o trabalho dos Diáconos Permanentes e Ministros Extraordinários de Diaconia (cf. por exemplo, DGAE, 24, 131 e 156).

i. Repensar nossas escolas de formação para os leigos e incentivar a participação dos mesmos nas referidas escolas, bem como em encontros, retiros e momentos formativos paroquiais.

 

II) Pilar do Pão 

 

“Eles eram perseverantes... na fração do Pão e nas orações...” (At 2,42)

 

a. As celebrações litúrgicas estejam voltadas para o essencial de nossa fé, Cristo Jesus e seu Mistério Pascal (cf. DGAE, 161). Sejam breves, porém bem preparadas e bem celebradas. “Resplandeçam de nobre simplicidade” (SC, 34);

b. Sejam multiplicados os horários de missas, sobretudo aos domingos e dias santos, a fim de que um maior número de fiéis possa participar da celebração eucarística neste tempo de pandemia;

c. Nossos templos, especialmente as igrejas matrizes, estejam sempre abertos, sejam organizados e higienizados de acordo com as normas sanitárias para este tempo de pandemia. Sejam convidativos à oração, à meditação, ao encontro com Jesus, nosso Salvador e sentido de nossa vida (EG, 47); 

d. Instituir em todas as paróquias o dia semanal de adoração ao Santíssimo Sacramento.

e. Os fiéis, especialmente os jovens, apesar da pandemia, sejam incentivados a participar da missa dominical e da vida pastoral da comunidade (cf. DGAE, 62 e 119);

f. Reestruturar a Equipe Diocesana de Coordenação da Liturgia;  

g. Valorizar os momentos de encontro com enfermos e enlutados. A presença da Igreja nos enterros seja momento forte de evangelização. 

h. Repropor a paróquia como lugar da adoração, do serviço e da missão (cf. EG, 24; DGAE, 132).

 

III) Pilar da Caridade

 

“Eles eram  perseverantes... na comunhão fraterna...” (At2,42)

 

a. Implantar e aprimorar os trabalhos do SEDIC (Serviço Diocesano da Caridade), buscando otimizar e buscar recursos para a Caridade; 

b. Criar, organizar e promover em cada paróquia SEPAC (Serviço Paroquial da Caridade), a fim de que nossa ação caritativa seja rápida e eficaz, oferecendo ajuda material e espiritual às pessoas mais necessitadas,utilizando-se do sistema de cadastros de famílias assistidas (CURIA ON LINE);

c. Fortalecer os trabalhos de promoção humana já realizados nas paróquias, buscando parcerias com o poder público, sobretudo através das Secretarias Municipais da Assistência Social;

d . Criar e apoiar o movimento Cristo te ama (CRISTMA) em todas as paróquias da Diocese;

e. Fortalecer a consciência ecológica, sobretudo através da implantação da Pastoral do Meio Ambiente;

f. Criar o Centro Diocesano de Ensino Social da Igreja;

g. Quanto à ação sócio-transformadora, que os fiéis sejam apoiados, motivados e capacitados, a fim de que atuem em seus campos específicos e de forma afetiva e efetiva, atuem também junto aos Conselhos Municipais (CNBB, Doc. 105, n. 263-266).

 

IV) Pilar da Missão

 

“Passando adiante anunciava o Evangelho as todas as cidades” (At 8,40)

 

a. Formar e/ou dinamizar o Conselho Missionário Paroquial de Pastoral (CMPP)(Doc.105);

b. “Priorizar a pessoa como objetivo da ação missionária.” (DGAE, 197);

c. Considerar este período de crise como período de transição para uma Igreja “em saída”, em estado permanente de missão (Capítulo I da EG), buscando “missionarizar” nossas comunidades, pastorais e movimentos;

d. incentivar e promover os trabalhos da Pastoral Familiar e dos movimentos e serviços que se dedicam à evangelização das famílias;      

 e. Fazer uma opção pastoral pelos adolescentes e jovens, em seus grupos, espaços familiares, de estudo e trabalho, incentivando-os ao encontro com Jesus e a uma vida missionária.  

f. Estimular o surgimento e/ou o fortalecimento da PASCOM paroquial, em comunhão com o Sistema D.A. de Comunicação;

g. Incentivar os vários movimentos e serviços que pregam o querigma;

h. Repensar e otimizar as dinâmicas de manutenção e as práticas administrativas das paróquias e da diocese em vista da evangelização;

i. Incentivar as orações em família (por ex.: Novena de Nossa Senhora Aparecida, Finados, Novena de Natal);

 

5) Lembrando sempre...

 

Diante do nosso XXV PLADAE somos convidados a recordar que:

- O PLADAE é ponto de partida, não é fim de um processo. É um início. Oferece possibilidade de muitos desdobramentos.

- O PLADAE não quer e não pode ser um documento a mais, mas um documento que se torna nossa prática diária, nossa busca constante. Nesse sentido, ele se insere na história e na caminhada evangelizadora da Diocese de Apucarana, acolhendo e retomando os planos anteriores.

- Todos somos convocados a ele nos aplicarmos constantemente.

- A Coordenação Executiva da Ação Evangelizadora acompanhará a sua execução, ajudando a discernir e encontrar novas possibilidades de ação.

- Prazos serão oferecidos para que metas sejam alcançadas, cumprindo tempos, prazos e etapas, sempre respeitando a realidade local.

- Temos ações em nível Diocesano, outras decanais e, finalmente, as mais importantes, na realidade paroquial, das diaconias, pastorais,movimentos e serviços. 

- O contemplar (ver), o discernir (julgar), o agir e celebrar são partes de um mesmoprocesso evangelizador que se resume no Amor concreto aos irmãos e irmãs, oferecendo-lhes o mais necessário: o Evangelho. 

- As atitudes, a maneira de ser, o jeito evangélico, são sempre o essencial e mais importante na AÇÃO EVANGELIZADORA: “Mais do que de mestres, o mundo precisa de testemunhas” (S. Paulo VI).

- Nossa missão consiste essencialmente em apresentar aos homens e mulheres do nosso tempo Jesus Cristo, como sentido da nossa vida. É fundamental recordar a todos que, “por Cristo e em Cristo, ilumina-se o enigma da dor e da morte, que fora do seu Evangelho nos esmaga. Cristo ressuscitou, com sua morte destruiu a morte e concedeu-nos a vida, para que, filhos no Filho, clamemos no Espírito: Abbá, Pai!” (GS 22).

 

 

 

Apucarana, Santuário de São José, 01 de maio de 2021. Memória de São José Operário.

 

 

 

 

Dom Carlos José de Oliveira

Bispo Diocesano de Apucarana 

 

 

 

 

Pe. Leandro Manoel de Souza

Secretário Executivo da Ação Evangelizadora


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