QUARESMA: TEMPO DE RECONCILIAÇÃO
“Buscai ao Senhor, já que Ele se deixa encontrar; invocai-O, já que está perto” (Is 55, 6)
A Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Quaresma, ao Mistério de Jesus no deserto. Esse tempo favorável de meditação e introspecção deve nos levar a uma profunda intimidade com o Senhor Jesus Cristo, nos colocando, sem reservas, face a face com Ele, para com Ele nos reconciliarmos. Devemos buscá-Lo incessantemente, no dia a dia, nos irmãos e em nós mesmos, pois Ele é conosco, todo o tempo. Reviver sua agonia ante o cumprimento de sua missão, servirá para que cada um de nós reveja a própria caminhada de fé e possamos dar um passo a mais rumo à estrada da santidade, a qual todos somos chamados. Convém que olhemos para nossa vivência cristã e avaliemos os resultados de tantas quaresmas já vividas e quais frutos essas vivências produziram em relação ao nosso ser cristão e nossa missão como discípulos de Jesus. Vivemos tempos difíceis, onde o mundo insiste em desviar nosso olhar do Cristo, sobrecarregando nossos pensamentos de tal forma que, facilmente, e quase sem perceber, colocamos Jesus como menos importante em nossa vida. Em sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco nos recorda a importância de fazermos o bem e, mesmo que o mundo nos chame ao egoísmo e ao individualismo, devemos insistir em fazê-lo, sem esmorecer nem desanimar. O Tempo Quaresmal é próprio para a renovação pessoal e comunitária que nos conduza à Pascoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Quaresma é o tempo de semear o bem, seja em nós mesmos, seja ao nosso redor pois, a boa semente sempre dá frutos. Semear com abundância de fé, de orações pessoais e comunitárias, de participação fervorosa na Liturgia Quaresmal, para que os bons propósitos de conversão e penitências se transformem em atitudes permanentes e duráveis, para o nosso próprio bem e daqueles que caminham ao nosso lado. Somos todos irmãos, salvos pelo mesmo Senhor, portanto, responsáveis por propagar a Vitória de Cristo, a Salvação e a vida nova. Somos chamados a refletir: o que há em nós que nos impede de sermos inteiramente de Deus? O que precisamos cortar, deixar de fazer, para retornarmos a uma vida de fé, confiança e obediência aos desígnios de Deus para nós? Ainda estamos vivendo o impacto das consequências negativas da pandemia e talvez tenhamos nos habituado a vivermos isolados ou até ainda estejamos distantes da Eucaristia e da comunidade onde, antes, alimentávamos nossa vida cristã e nossa fé. Quando vislumbramos o retorno a uma vida normal, pós-pandemia, nos vemos imersos no medo e apreensivos novamente, desta vez pela guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia. Toda guerra, todo conflito traz consequências nefastas para a humanidade, pois todos perdem. Tudo pode parecer um círculo vicioso a comprometer a paz e a normalidade tão desejada pelos povos, então, cabe a nós, filhos amados de Deus, nos voltarmos com confiança à misericórdia do Pai, clamando pela conversão da humanidade, usando a arma mais poderosa que temos: a oração. Há em cada um de nós uma batalha entre o homem velho, que insiste em se manter distante e acomodado e há o desejo de se retornar às promessas batismais, ao Cristo, que é o centro de nossa vida. Somos convidados pelo próprio Cristo a renunciarmos a essa tentação de acomodação, isolamento e medo que a pandemia nos causou e que a guerra de agora nos causa. Despojemo-nos do homem velho, revestindo-nos da imagem e semelhança de Deus, da qual fomos criados para a santidade, a justiça e sejamos construtores da harmonia e unidade. A humanidade grita pela conversão, pela renúncia ao egoísmo, clamando pela paz. A Quaresma deve ser vivida na plenitude da oração, não com tristeza ou pesar, mas com o firme desejo de conversão e de adesão aos planos de Deus, que nos quer santos e fieis, livres das amarras do pecado que escraviza, da falta de fé e do desânimo espiritual. Assim como Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, também nos permitamos ser conduzidos pelo mesmo Espirito neste Tempo Quaresmal, a fim de que Ele nos leve ao deserto e fale aos nossos corações, ensinando-nos o caminho da verdadeira conversão e da santidade, para que cheguemos à Semana Santa imbuídos do desejo de sermos melhores e mais ardentes no amor a Deus e aos irmãos. Vivamos o Tempo Quaresmal em comunidade ou em família, mas vivamos bem, para que os bons propósitos firmados nesse tempo se tornem efetivos e perenes, para além da Quaresma. Que a Virgem Maria caminhe conosco e nos auxilie com sua intercessão maternal e amorosa.
+Dom Carlos José
Bispo da Diocese de Apucarana
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