“Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no senhor. Vivei como filhos da Luz.” (Ef. 5, 8) Quaresma é tempo de mergulharmos na misericórdia do Pai e, imersos em seu abraço acolhedor, sairmos das trevas do pecado que nos separa da Divina Graça para tomarmos posse da Luz irradiada pelo Ressuscitado. O tempo quaresmal é propício para que nos voltemos para dentro de nós mesmos e façamos uma revisão interior, repensando as atitudes, pensamentos e modo de agir no cotidiano e ver se condizem com a vontade de Deus. Questionar-se com sinceridade, sempre à Luz do Espírito Santo, para que as respostas sejam verdadeiras nos dará um ponto de partida para um recomeço em Cristo e com Cristo. “Desperta, tudo que dormes” (Ef, 5-14), não deixemos que a cegueira envolva nosso olhar e nosso coração e nos torne indiferentes ao que nos rodeia, despertemos do sono da indiferença! Importante que, no processo de autoavaliação, pensemos também em nosso relacionamento com o próximo, pois, seja esse próximo conhecido ou não, ele é nosso irmão em Cristo. Ao compreendermos e aceitarmos essa realidade, de que somos realmente irmãos e filhos do mesmo Pai, o bem que buscamos para nós, ou que já possuímos será estendido e partilhado com o próximo. Esse é o desejo do Pai e nossa missão: colaborar com amor para que todos tenham a mesma dignidade que queremos para nós. Neste tempo que antecede a Semana Santa, somos exortados a olhar com compaixão para os irmãos necessitados, carentes e excluídos da sociedade. Reconheçamos que, geralmente passamos por eles no dia a dia e nos acostumamos com a situação, nos tornando indiferentes e inativos diante da urgência de cada um ou deixamos para os outros a responsabilidade do cuidado, que também é nossa. Não podemos salvar a todos, mas podemos ajudar alguns! A Campanha da Fraternidade deste ano aborda o tema da fome “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). ‘Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: “eu estava com fome, e me destes de comer... todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” mensagem do Papa Francisco para a CF 2023, que, atento aos problemas e necessidades do povo de Deus, nos chama a fazer desse momento de reflexão, uma ação concreta e constante que gere em cada um de nós um encontro pessoal com Cristo presente no irmão necessitado. O Evangelista Mateus, ao narrar a primeira multiplicação dos pães, deixa claro que, antes de saciar a fome da multidão, Jesus age com compaixão, curando os doentes e, em seguida, nos dá um ensinamento sobre a partilha e o cuidado que devemos ter para com os outros, chamando-nos à responsabilidade do amor ao próximo, na ajuda e na caridade: nós, hoje, devemos saciar a fome do irmão, seja ela qual for. Ensinou-nos que ao dividir o que temos, multiplica-se o que somos e fazemos. Em nossos dias, vemos que o povo está faminto de tudo: há fome de amor, de solidariedade, de amizade, de carinho, de diálogo, de oração! Na verdade, o mundo está faminto da graça do Alto. Temos tudo à disposição, mas não temos felicidade, realizamos tantos sonhos e mesmo assim, vivemos frustrados e insatisfeitos. “Dai-lhes vós mesmos de comer” é propiciar ao outro não apenas o alimento do corpo, necessário e essencial para a existência, mas oferecer o conhecimento do amor de Deus, a Palavra que dá a todos a dignidade de serem filhos amados por Deus, salvos em Cristo e por Cristo. É urgente que nos voltemos para a Palavra, que nos chama continuamente a imitarmos Cristo, Salvador e Redentor de todos. Diante de uma sociedade que nos quer indiferentes e distantes de Deus, a nossa referência de vida é Cristo, Luz do mundo! Por mais que se procure alternativas, soluções e realizações, nada há realmente que seja bom para todos, enquanto alguém, por falta nossa, esteja com fome de alimento para o corpo e longe de Cristo. Aprendamos de Jesus “O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sm,16). Quem reconhece o próprio pecado e não se converte, não reconhece Jesus como Salvador. Que a Virgem Maria, Senhora da Quaresma, que não reteve Cristo para si, mas O gerou para nós, nos ensine a partilhar os dons espirituais e os bens materiais com os mais necessitados. Dom Carlos José Bispo da Diocese de Apucarana - Paraná
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