Há uma certa repulsa por parte da maioria das pessoas quando o assunto é Eleição, seja ela em nível federal, estadual ou municipal. De certo, esse repúdio pode ser causado por toda a situação atual do mundo e do nosso pais: escândalos impensáveis, corrupção quase que em todos os níveis, governanças na base de trocas de interesses pessoais, partidários ou elitistas, tudo isso gera nas pessoas de bem o que chamamos de ‘vergonha alheia’, ou seja, nos sentimos envergonhados pelas atitudes dos que foram eleitos pelo povo e não governam para o povo. Essa repulsa gera desânimo e desinteresse pela política, faltando motivação para decidir quem é o mais indicado para receber o nosso voto, fazendo-nos correr o risco de votar impensadamente, ou mesmo nos tentando a não votar, anular o voto ou justificar a ausência. Quando nos negamos esse direito de votar, estamos enfraquecendo a democracia e abdicando de nossa responsabilidade enquanto cristãos comprometidos com a construção do Reino de Deus. Sempre é preciso que renovemos em nós a consciência de que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos, seja em que âmbito for, e isso se aplica também e de fato, na escolha do nosso candidato. Não se deve considerar o voto como uma obrigação e sim como um direito inalienável, pessoal e livre, que deve ser exercido com base nos ensinamentos cristãos, levando-se em conta a ética, a moral e o desejo pelo bem comum. Sendo em nível municipal, o eleitor tem a seu favor o fato de poder conhecer mais de perto os candidatos, suas plataformas de governo, suas intenções, bem como tem mais acesso ao histórico de vida pública de cada um, e, com seu voto livre e consciente, fará sua escolha. O cenário eleitoral tem, neste ano, uma face totalmente diferente do que estávamos acostumados: sem grandes eventos públicos, comícios, abraços e apertos de mãos, as campanhas acontecem de forma singular, por meio das mídias sociais e eletrônicas e na divulgação pessoal de cada candidato ou partido, o que pode tornar um pouco mais difícil a escolha. Existe uma fala popular, que de forma errônea, diz que o ser cristão não condiz com o meio político. Contradizendo essa fala, o Papa Francisco nos alerta que “um bom católico deve sim se interessar pela política, e oferecer o melhor de si mesmo para que seus representantes eleitos governem e governem bem”. Tenhamos, portanto, interesse pela política, pois ela influencia nossa vida como um todo e é essencial para a transformação da sociedade e interfere na educação, na segurança, e nos demais direitos dos cidadãos. ‘A política é uma maneira exigente, se bem que não seja a única, de viver o compromisso cristão, a serviço dos outros’ (Papa São Paulo VI). A Igreja Católica costuma se pronunciar também em tempos de eleição, promovendo orientações básicas aos eleitores, tendo em vista o bem comum, a justiça e a paz. Essas orientações e esclarecimentos, são focadas no “como votar” e não “em quem ou qual partido votar” e são alicerçados na Palavra de Deus e na Doutrina Social da Igreja, cujo teor versa sobre a participação democrática do povo nas eleições, direitos e deveres dos cidadãos e dos governantes eleitos. O cristão leigo é o protagonista das eleições; a ele compete o direito e o dever de participar na edificação da sociedade, como um todo. Em tempos de crescente desvalorização da política, somos convidados a fazer das Eleições 2020 uma verdadeira festa da democracia, de forma que se concretize a ‘política melhor, colocada a serviço do bem comum’ (Fratelli Tutti). Clamemos ao Espírito Santo que nos dê sabedoria, discernimento e clareza, para que, sob sua Luz, possamos agir conforme a vontade de Deus, para que ‘Ele realize em nós o que lhe é agradável’ (Hb 13,21). Que Nossa Senhora de Lourdes interceda pela Família Missionária Diocesana e por todo o Brasil, nessas eleições e sempre.
+Dom Carlos José
Bispo Diocesano