“E todo aquele que deixar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras por amor de mim, receberá cem vterá como herança a vida eterna” (Mt 19,29).
A primeira vocação humana é o chamado ao protagonismo da nossa própria história, vivendo como irmãos em Cristo, sujeitos à Palavra e ao amor incondicional de Deus Pai. No entanto, há em algumas pessoas um inquietante chamado a ser mais, a ir além da vocação natural e comum à maioria das pessoas. Trata-se de um chamado do próprio Deus, que impele e direciona a pessoa a ser algo a mais, dentro da vida da Igreja de Jesus Cristo. É o convite a ser consagrado à Deus e à sua Igreja: vida vocacional à serviço do Reino. No terceiro domingo de mês de agosto, celebra-se a Vida Consagrada ou religiosa. Aqui incluímos os homens e mulheres pertencentes a tantas Congregações ou Ordens, aprovadas pela Igreja ao longo dos séculos. Em nossa Diocese temos ao padres Josefinos e Palotinos. A eles agradecemos toda a dedicação ao longo de décadas em nossa diocese. Queremos destacar hoje, as nossas queridas freiras, as Irmãs Consagradas à vida religiosa. A vocação feminina é um dom todo especial e um sinal de unidade em Cristo, não só para a vida eclesial, mas para toda a humanidade. São mulheres que, ao ouvir o sussurrar do Espírito Santo, se inquietam com essa voz, e descobrem em si mesmas, dons e carismas especiais que as direcionam ao serviço religioso. Elas, animadas pelo Espírito Santo, se consagram inteiramente ao Senhor, numa missão e espiritualidade específicas, doando-se ao serviço ao próximo, à vida de oração e contemplação e na vivência do Evangelho de Jesus. O cerne da vocação feminina está em saber que, sem mérito próprio, mas por intervenção e escolha Divina, abdicam das coisas do mundo, para, estando no mundo, serem reflexo do Rosto de Deus. São mulheres que assumem um único objetivo em suas vidas: consagrar-se a Jesus Cristo e difundir o seu Reino de amor, através do carisma próprio de cada Congregação. Para isso, não hesitam em deixar famílias, bens, propriedades, casa, amigos e tudo o que poderia prendê-las ao mundo e à vida afetiva, para, numa doação total à Deus, viver sua vocação batismal como serviço consagrado ao Senhor, numa vida de oração, intercessão e trabalho. Essas bravas mulheres são o ‘sinal esponsal’ da Igreja de Cristo, posto que são inteiramente consagradas a Ele, numa união indissolúvel, pela integridade da fé Nele e do amor incondicional que sentem e recebem do próprio Deus. Esse amor sublime dispensado a elas pelo Pai, as tornam mães e cuidadoras de milhares de irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, tão necessitados de carinho e afeto. Dedicadas a servir à Igreja, no serviço ao próximo, a presença das Congregações Femininas na Diocese, Comunidades, Diaconias e Paróquias, torna visível a ligação de comunhão profunda e adesão ao plano de Deus para o povo, pois demonstram, com suas ações e testemunho uma fé convicta em Cristo e na sua Igreja. Mulheres de fé, que com a delicadeza própria de sua criação, porém, firmes em seus propósitos de serem fieis à sua vocação, são “capazes de despertar o mundo” para a alegria de servir, como enfatizou o Papa Francisco, se referindo ao carisma feminino dentro da Igreja, pois “onde há uma autêntica vida consagrada, há a alegria do próprio Cristo”. A alegria do servir a Cristo em primeiro lugar, e consequentemente à Igreja e aos irmãos, faz das Religiosas uma presença marcante na vida missionária e catequética da Igreja e das comunidades onde servem. Com seus variados carismas, a “freiras”, como carinhosamente são chamadas pelo povo, se destacam no trabalho silencioso e discreto, porém essencial no contexto contemporâneo da sociedade. Com o olhar sempre voltado para o Alto, para as coisas de Deus, as religiosas mantêm seus pés firmes na terra, no nosso chão e se dedicam com afinco, amor e muito trabalho à vida consagrada, vivendo intimamente os mesmos sentimentos do Coração de Cristo, na obediência, castidade, pureza e pobreza, esperando e confiando na Providência Divina, que nunca lhes falha, sendo, verdadeiramente, pessoas livres de si mesmas, que vivem para Deus e seus desígnios. Sejam as contemplativas, missionárias, professoras de educandários e escolas católicas, formadoras de novas vocacionadas, líderes de pastorais sociais, empenhadas na formação catequética de leigos e leigas, auxiliares nas Dioceses e Paróquias, todas, cada qual em seu carisma próprio são sinais luminosos no caminhar do povo de Deus, rumo à santidade pessoal e comunitária, numa perfeita doação de si mesma, onde todo sacrifício se une às Chagas de Cristo para o bem maior: a salvação das almas. Nossa eterna e elevada gratidão às Irmãs Consagradas, que, a exemplo da Virgem Maria, mesmo em meio a tantos percalços e tribulações, não se deixam abater nem desaminar, e continuam plantando a Palavra e o Amor por onde passam, testemunhando que vale muito gastar-se e construir-se por Cristo e pela Igreja, pois, como diz a Palavra: “Onde está o teu tesouro, também está teu coração” (Mt 6,21).
Dom Carlos José de Oliveira
Bispo da Diocese de Apucarana