“Tema ao Senhor toda a terra; reverenciem-No todos os habitantes do globo. Porque Ele disse e tudo foi feito” (Sl 32, 8-9).
A Diocese de Apucarana, com seu Bispo, Dom Carlos José, unida às autoridades municipais, leigos, membros da Pastoral do Meio Ambiente e representantes de várias denominações religiosas, reuniram-se no último dia 04 de outubro, em uma audiência pública na Câmara Municipal de Apucarana, para o encerramento do “Tempo da Criação”. O “Tempo da Criação” foi aberto em nossa Diocese no dia 1º de setembro, na Câmara Municipal de Arapongas. Seu término, exatamente no dia de São Francisco, Padroeiro da Ecologia, o Tempo da Criação não pode se resumir a apenas esses trinta e quatro dias, mas deve e necessita se prolongar indefinidamente, com atitudes diárias de mudanças e novos posicionamentos diante da grande ameaça que nosso planeta está vivendo. Ameaças em relação à própria vida da Casa Comum, a terra em que habitamos e, consequentemente a vida de cada um de nós e das próximas gerações. Não é admissível que pensemos: não há o que fazer, tudo se encaminha para o fim. O ser humano tem a capacidade, dada pelo Criador, de colaborar para a transformação dessa realidade ecológica tão caótica e assustadora: basta que cada um assuma seu dever e compromisso diante dessa realidade. Não podemos pensar que estamos ilesos às consequências desastrosas que matam toda espécie de vida existente no mundo, nem delegar esse compromisso aos outros, pois somos parte integrante e essencial da salvação e conservação da Casa Comum. Tomar essa responsabilidade como um comprometimento pessoal com Deus em primeiro lugar e com a natureza em geral e, literalmente, colocar mãos à obra, fazendo cada um a sua parte, é ser um cristão discípulo/missionário na vinha do Senhor. A linha de pensamento a seguir deve ser: nossas atitudes estão contribuindo para o bem comum, ou estamos sendo egoístas e usurpadores dos direitos dos outros, ou ainda, esperamos que os outros façam e ficamos de braços cruzados? Unidos ao tema ‘Uma Casa para todos. Renovando o OIKOS de Deus’, que significa morada, Casa de Deus, somos exortados a enxergar verdadeiramente que a Casa Comum, o planeta em que habitamos é a Casa de Deus, criada por Ele para que nossa existência seja sadia e feliz. Quando falamos em OIKOS, nosso olhar deve voltar-se, primeiramente para nossa própria casa, nosso lar, nosso local de trabalho. O mundo é uma vasta extensão do nosso habitat diário e, se cuidamos da nossa família e da nossa casa com esmero e cuidado, devemos estender esses princípios de zelo e amor ao nosso redor. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é a primícia da vida humana, e esse amor deve se revelar no zelo pela criação, no cuidado com o bem-estar do próximo. É urgentemente necessário voltarmos a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma grande responsabilidade para com os que vivem ao nosso redor e o mundo em geral. Em tempos onde o contato humano foi substituído pelo mundo digital e virtual, dando-nos uma irreal sensação de alegria e prazer, há que se retornar às origens, onde a bondade, a honestidade, o cuidado e a ética sejam retomadas como valores essenciais em tempos tão superficiais. A conversão ecológica pessoal e comunitária é o princípio das mudanças que a Casa Comum necessita para integrar todos e cada um numa nova mentalidade de agir e cuidar. Retomemos os simples gestos cotidianos de sorrir, estender as mãos, ajudar e cuidar de tudo e todos ao nosso redor. Uma nova mentalidade nos fará trilhar um caminho de amor, paz, amizade e comunhão, no cuidado com o outro e no zelo pela Casa Comum, começando em nosso coração, tirando o lixo que acumulamos ao longo da vida, substituindo-o por gestos mais amenos, carregados de amor e doação. Que todas as orações, preces e bons propósitos pensados neste Tempo da Criação, mudem nossa percepção e relacionamento em relação ao mundo e à forma como vivemos e sejam transformadas em ações concretas. Cada pequena atitude de transformação de cada um gera, ao longo do tempo, frutos de bênçãos e vida nova. Que a Virgem Maria, Mãe da humanidade, que cuidou de Jesus, cuide com carinho e preocupação materna de nós e deste mundo ferido. “Senhor Deus, Uno e Trino, comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós”. (Oração da Terra – Laudato Si).
Dom Carlos José de Oliveira
Bispo da Diocese de Apucarana