A PALAVRA DE DEUS GERA VIDA NOVA “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”. (2Cor 6,1-2) A Quaresma é o tempo favorável para nos indagarmos: para onde estou indo? Para onde a minha vivência pessoal e comunitária está me levando? Rever os próprios passos é o começo da transformação pessoal, comunitária e social para todos os cristãos que se encontram a caminho da Salvação. Como filhos amados por Deus, somos inseridos nesse tempo quaresmal, para vivermos um verdadeiro ‘retiro’, saindo do tempo comum para, retirados com Cristo, chegarmos com Ele à Semana Santa. A cada ano, neste tempo oportuno, a Liturgia tem o objetivo de nos tirar da correria diária, nos chamando a recordarmos da necessidade constante de vigiarmos nossas atitudes e comportamentos, muitas vezes impostos pelo mundo moderno, onde Deus já não é mais prioridade, e sim, Alguém distante e quase esquecido. Infelizmente, somos levados pelo cotidiano a nos afastarmos da essência a que fomos criados e, iludidos pelos falsos poderes terrenos, acabamos vivendo o ser cristão de uma forma superficial, aparente e vazia. Justamente para que não percamos o foco em Cristo Jesus, faz-se necessário esse tempo de deserto e vivência quaresmal, que nos faça retornar ou permanecer no único Caminho que nos conduz à santidade. De muitas formas podemos vivenciar a Quaresma. Mesmo inseridos no mundo, com nossas atividades profissionais e compromissos familiares, é possível experimentar a graça da transformação cristã pessoal que esses 40 dias nos ensinam. A cada domingo da Quaresma nos é apresentado um Evangelho propício à reflexão. Começando pela narrativa sobre a tentação sofrida por Jesus no deserto, vemos o demônio que tenta seduzi-Lo com propostas diversas, pondo-O à prova. Texto tão comum a nós que somos constantemente tentados e, na maioria das vezes, de forma muito sutil, que chega a não parecer uma tentação e sim uma oferta inofensiva e banal, porém, nas entrelinhas há a intenção diabólica de nos afastar de Deus, de fazer-nos negar a nossa fé ou acreditarmos no poder terreno, e, com tudo isso, quando percebemos, já estamos afastados do caminho reto e do amor de Deus. Vigiemos para não sermos enganados. Temos também, na sequência dos domingos, a Palavra de esperança que retrata a Transfiguração de Cristo, convidando-nos a mergulharmos no Mistério da Luz Divina. O rosto transfigurado de Jesus reflete a mesma Luz que resplandecerá em sua Gloriosa Ressurreição. Revela-nos também que o caminho para a Glória se faz carregando a cruz de cada dia, unida à de Cristo. No 3º domingo somos questionados sobre qual lugar Deus ocupa em nossa vida, levando-nos a refletir sobre nossa adesão à Pessoa de Jesus e se estamos realmente vivendo a intima comunhão com Ele. Está explícito nesse Evangelho que, quando as coisas do mundo ocupam o lugar de Deus perdemos a vida, a paz e a liberdade. O penúltimo domingo nos mostra o pai e seus filhos. Essa Liturgia deve nos confrontar profundamente: quem somos: o filho que pensa ser autossuficiente e não precisa de Deus ou aquele que se julga melhor que os outros, por estar cumprindo seu dever de cristão? Em ambas as situações, podemos sentir o cuidado de Deus, que espera o filho arrependido e se alegra com sua volta e, ao mesmo tempo se mantém junto ao que permanece na sua presença, sem nada lhe deixar faltar. Deus é o Pai Amoroso e paciente que espera, acolhe e não abandona os que permanecem Nele. O último domingo nos mostra um encontro entre a miséria humana e a Misericórdia. Quando o arrependimento é sincero, o perdão é absoluto. Esse Evangelho nos mostra que não somos melhores que os outros, apenas pecamos de forma diferente. Pecado é sempre pecado, cada um tem os seus, por isso não devemos julgar quem peca diferente de nós. O pedido de Jesus é que nos arrependamos, confessemos e façamos o firme propósito de não mais voltar ao pecado. Há várias maneiras de vivermos este tempo de preparação para a Páscoa de Nosso Senhor. A oração, o jejum, a penitência e a meditação da Palavra de Deus são meios de crescimento espiritual e conversão. Olhemos para a Quaresma como uma excelente oportunidade de purificação interior, para que façamos escolhas que favoreçam a obra que Deus quer realizar em nós e através de nós. “Para onde irei, longe do vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? ” (Sal 138, 7). Caminhamos para onde dirigimos nossos passos. Que a Virgem Maria, Senhora da Quaresma interceda por nossa conversão. +Dom Carlos José Bispo da Diocese de Apucarana - PR