“Deus contemplou toda sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
O criador nos chama a um novo estilo de vida, que seja aberto ao bem, à verdade e à beleza! (Laudato Si’, 205)
No Terceiro ano de seu pontificado, em maio de 2015, o Papa Francisco apresentou ao mundo a Encíclica Laudato Si’, abordando de forma clara e objetiva, um tema forte e sumamente importante, que já despertava grandes preocupações em seus antecessores: o avanço da crise climática e a necessidade urgente de uma conversão ecológica mundial. Iluminado pelo Espírito Santo e por Ele conduzido, o Sumo Pontífice, repetindo as palavras “Louvado sejas, meu Senhor”, proferidas por São Francisco de Assis, em seu belíssimo e imortal Cântico das Criaturas, exorta a humanidade a se voltar para a essência de sua missão: o cuidado e a administração da nossa Casa Comum, criada e desejada por Deus para ser a nossa morada neste mundo. “Do Senhor é a terra e tudo o que ela contém, a órbita terrestre e todos os que nela habitam, pois Ele mesmo a assentou sobre as águas do mar e sobre as águas dos rios a consolidou” (Sl 23, 1-2), portanto, não podemos viver e agir como donos da terra, mas sim como administradores que receberam um bem para ser cuidado, cultivado e preservado para que novas gerações possam usufruir dela como nós usufruímos. Para que a terra sobreviva ao cultivo e uso necessário para o bem comum, há de se haver uma reciprocidade entre a natureza e o homem, onde este tome da terra o necessário para sua sobrevivência, garantindo às gerações futuras que haja fertilidade para a sua subsistência. Pensando nessa ligação entre homem e terra, percebemos que tudo está interligado, nada existe ou foi feito ao acaso, não estamos abandonados num caos. A existência humana apenas se mantém se houver uma relação clara entre Deus, o próximo e suas necessidades e a natureza, como fonte de sobrevivência. Quando agimos como donos da terra, fazendo dela apenas uma fonte de riquezas e prazeres pessoais e egoístas, perdemos a noção de nossa limitação humana, deixamos de viver a fraterna comunhão de irmãos e filhos do mesmo Criador, ocupamos o lugar de Deus e, consequentemente, nos afastamos Dele e passamos a viver como se Ele não existisse, tampouco as demais criaturas. Essa Encíclica aponta as grandes dificuldades atuais vividas pela humanidade, e nos abre os olhos para um futuro próximo que pode ser avassalador no sentido da preservação da espécie humana, diante das rápidas transformações pelas quais passamos. Sabiamente, em março de 2020, o Papa Francisco conclamou o povo a dar vida a Laudato Si’ chamando todos à participação da Semana Laudato Si’, em comemoração ao quinto ano do lançamento da Encíclica. Com a chegada da pandemia da COVID-19, os planos de interação pessoal foram adaptados de muitas formas para que a data não passasse em branco. De certa maneira, a pandemia mostrou que, realmente, tudo está interligado, nada se sustenta sem que haja unidade fraterna e respeito à criação e ao próximo. Em 2021, com o tema ‘pois sabemos que as coisas podem mudar’ a Semana Laudato Si’ terminou com o lançamento da Plataforma de Ação Laudato Si’ preparada para este mês de maio de 2022. “Escutando e caminhando junto, pois tudo está conectado” é o tema de estudo para 2022. Todos somos convidados a fazer nossa parte na construção de uma ecologia integral, onde a vida digna possa acontecer num planeta mais saudável, com relações humanas mais fraternas, conforme o desejo do Criador. Quando cristãos e não cristãos conseguirem responder, com sincera convicção, ao desafio feito pelo Papa “que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo? ”, certamente a humanidade terá reascendido a chama da esperança de um futuro melhor e mais humano.
O criador nos chama a um novo estilo de vida, que seja aberto ao bem, à verdade e à beleza! (Laudato Si’, 205).
Dom Carlos José+
Bispo da Diocese de Apucarana - Paraná