Campanha da Fraternidade 2023
“Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha.” (Mt 17,1)
Toda a liturgia quaresmal nos remete a introspecção para que, bem preparados, possamos vivenciar a Semana Santa com o coração mais aberto, a mente mais atenta e, assim, voltarmos a sermos homens e mulheres centrados em Cristo Ressuscitado, renovados de fato, como novas criaturas, no fogo novo da Páscoa do Senhor. Assim, imersos novamente no Espírito Santo, sejamos capazes de olhar além de nós mesmos como Jesus olhava aqueles que o rodeavam, necessitados de sua presença e seu amor. Se pararmos para pensar, não como críticos ou juízes, pois não temos esse direito, mas pensar como Cristo agiria hoje, diante dos tantos irmãos famintos não apenas de pão, mas de amor, de carinho, de atenção, de ajuda e mesmo de acolhimento, o que faríamos? A quaresma nos pede a oração, o jejum e a penitência. Pede-nos também a caridade, o cuidado para com o outro, o perdão, o afeto e a partilha. De que adiantaria jejuar, orar e fazer penitências e fechar os olhos às necessidades do próximo? Há que se unir tudo isso, transformar os sacrifícios quaresmais em atitudes concretas e transformadoras. Sabendo, claro, que o próximo não é só aquele que mora nas periferias longínquas apenas, mas pode ser nosso familiar, parente mais distante, vizinho, membro da nossa própria comunidade paroquial ou até da nossa pastoral ou movimento! Nem todos se expõem quando estão em dificuldades, seja por timidez ou outras razões pessoais, por isso devemos ter nosso olhar atento aos comportamentos daqueles que nos cercam e ofertar ajuda sem humilhar ou constranger, de forma a saciar suas necessidades caridosamente, sem preconceitos. Caridade é dar gratuitamente, longe dos holofotes e propagandas, sem interesses pessoais, apenas com o intuito de ajudar e aliviar as dores do outro. Geralmente, nas grandes catástrofes, vemos toneladas de doações que chegam de todos os lados, graças a Deus! Mas, por que esperar as tragédias? Partilhar é obrigação constante de todo cristão, isso é fraternidade, exercício benéfico da generosidade, pois, sempre tem quem precisa e quem tem para repartir. ‘Realmente, neste tempo litúrgico, o Senhor toma-nos consigo e conduz-nos à parte. Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir «a um alto monte» juntamente com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular experiência de ascese. A ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz. Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha. (Mens. do Papa Francisco para a Quaresma 2023). Ao longo da Quaresma seremos exortados pelos Evangelhos Dominicais a nos mantermos fieis a Deus, fugindo da tentação do inimigo que deseja nos afastar de Cristo; seremos chamados a abrir os ouvidos com mais atenção para ouvir Sua voz que nos fala de tantas formas, seja através dos irmãos ou das Sagradas Escrituras; seremos convidados a subir com Ele até o Monte Tabor e enxergá-Lo na Eucaristia, comungando de seu Corpo e Sangue; até que um dia alcancemos a graça de vermos a Sua Glória nos Céus! A Quaresma é um convite a nos colocarmos a caminho, com Ele, sem medo e sem temor de sermos transformados por Ele e, transformados, sentiremos nosso coração arder a ponto de não conseguirmos reter para nós tamanha Graça e então sairemos a saciar a fome e a sede dos nossos irmãos que ainda não conhecem Jesus. Com a alegria de quem reparte o que tem, obedientes à Palavra de Cristo que disse aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), seremos nós a repartir o pão que sacia a fome do corpo e a Palavra que sacia a fome do coração! Como a Virgem Maria, que gerou Jesus e não o reteve para si, doando-O ao mundo, como doou-se a si mesma inteiramente a Deus!
Oração da Campanha da Fraternidade
Pai de bondade, ao ver a multidão faminta, vosso Filho encheu-se de compaixão, abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes e nos ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”.
Confiantes na ação do Espírito Santo, vos pedimos: inspirai-nos o sonho de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz; ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidária, sem fome, pobreza, violência e guerra; livrai-nos do pecado da indiferença com a vida.
Que Maria, nossa mãe, interceda por nós para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa, sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos. Amém.
+Dom Carlos José
Bispo da Diocese de Apucarana - Paraná